Às vezes a memória pode ser uma companheira enganosa”, diz o escritor canadense William Young, autor de “A Cabana”. Essa frase pode parecer estranha à primeira vista, uma vez que, para termos uma memória é necessário que tenhamos contato com o conhecimento ou situação em questão. No entanto, a memória é um arquivo aberto, que pode receber informações novas e se modificar com o tempo.
Por isso, nossas memórias podem não ser tão confiáveis assim. Existem diversas variáveis nesse tema, mas a psicóloga Rita Calegari destaca um ponto importante: “não podemos modificar o fato vivido”. Porém, as emoções associadas a uma lembrança podem ser alteradas, assim como as conexões que fazemos com outras memórias relacionadas em nossa mente.
As lembranças e a ação do tempo
Além disso, a ação do tempo também influi na forma com que organizamos os arquivos no nosso cérebro, como explica a psicóloga Gabriela Cosendey: “Freud, em 1896, já falava sobre um processo de estratificação da memória, em forma de traços que sofrem rearranjos de tempos em tempos – devido às constantes mudanças que sofremos em nosso mundo interno, através das interações com o mundo externo. A memória está diretamente relacionada à percepção e é influenciada pelas emoções e pela imaginação”.
Por isso, nada do que nos lembramos é 100% falso. Mas uma memória do passado tende a se tornar menos clara com o passar do tempo e se confundir com fatos que se desenvolveram na imaginação. Esse processo é chamado de atribuição errada e pode acontecer por que a memória é um processo de reprodução e reconstrução, que nem sempre deixa claro sua origem. Portanto, memórias irreais são tão perfeitas quanto as reais.
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Texto: Redação Edição: Angelo Matilha Cherubini
Consultorias: Rita Calegari, psicóloga; Gabriela Cosendey, psicóloga