O tratamento de um paciente com depressão não se limita aos procedimentos relacionados à psicologia e à psicanálise. Os avanços da neurociência possibilitaram novos métodos de intervenção — com resultados que deixam uma sensação de otimismo no ar. Mas vale o alerta: todas as técnicas necessitam da prescrição de um profissional especializado.
“A eletroconvulsoterapia, apesar do estigma que vem carregando ao longo de décadas, talvez seja a modalidade de tratamento para depressão mais eficaz que existe atualmente no arsenal terapêutico”, aponta o psiquiatra Rodrigo Pessanha.
Choques para o bem
Por meio dessa técnica, sinais elétricos estimulam a atividade cerebral por um curto espaço de tempo — geralmente, menos de um minuto em cada uma das dez sessões (quantidade inicial para o tratamento). Com isso, em muitos casos, é possível aliviar boa parte dos sintomas característicos da depressão.
Ainda pouco conhecida por grande parte da sociedade, essa técnica necessita do consentimento e até documento assinado pelo paciente ou por um responsável caso o mesmo não tenha condição física ou mental para assumir a responsabilidade. Essas medidas são necessárias por causa do funcionamento da terapia.
“O procedimento de estímulo tem que ser realizado em um regime de anestesia geral ou sedação profunda que chamamos de bloqueio neuromuscular. Esse recurso se trata de um grupo de medicamentos que relaxa toda a musculatura voluntária, sempre na presença de um anestesista com monitoramento dos sinais vitais contínuos com eletrocardiograma, saturação de oxigênio e medição da pressão arterial. Além disso, em todas as circunstâncias, há o consentimento informado, ou seja, o paciente, caso possua condições, é comunicado que vai ser submetido a esse tratamento”, explica Rodrigo.
Na mesma vertente da eletroconvulsoterapia, Rodrigo cita que outros métodos também visam induzir o cérebro a funcionar melhor frente à depressão. “Há a estimulação magnética transcraniana, que se baseia na colocação de um aparelho para gerar um intenso campo magnético em determinadas regiões cerebrais. Existem também os marcapassos intracerebrais para o tratamento do quadro depressivo e meios como a estimulação vagal intermitente, que se assemelham ao sistema do marcapasso”, elenca.
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Consultorias: Beatriz Breves, psicanalista e fundadora e presidente da Sociedade da Ciência do Sentir, no Rio de Janeiro (RJ); Cristiane Vilaça, psicanalista; Júlia Bárány, psicanalista; Maria Cristina de Stefano, psiquiatra; Paulo Paiva, psicanalista, coach e especialista em gestão de pessoas; Rodrigo Pessanha, psiquiatra.
Texto: Vitor Manfio/Colaborador – Entrevistas: Ricardo Piccinato – Edição: Augusto Biason/Colaborador