Manter o foco em uma mesma atividade parece um grande desafio em meio aos sons de notificações no Smartphone ou a aba do navegador aberta no computador. Acompanhar o que há de novo no Facebook, Whatsapp e outros aplicativos é uma tentação para muita gente. O problema é que as redes sociais podem prejudicar o foco no trabalho e na vida pessoal.
“Eu checava redes sociais a toda hora; tinha a página sempre aberta pelo notebook. A linha do tempo do Facebook é algo que me prende muito; a gente entra para ver algo e, quando percebe, está há mais de uma hora. Com o Twitter, é a mesma coisa. É muita informação para ver e eu acabava me desconcentrando direto”, conta Pedro Cíndio, produtor de conteúdo para páginas de redes sociais e celular.
Identificou-se com esse tipo de situação? O problema tem se tornado cada vez mais comum. Ver o que acontece nas redes sociais e comunicar-se por meio de aplicativos de mensagens a todo o momento é realmente muito atrativo. Sabendo disso, como manter a atenção e ficar concentrado no ambiente de trabalho ou em meio aos estudos?
Desafio tecnológico
“Com a expansão das redes Wi-Fi e os planos de dados de telefonia celular, a conectividade é de total acessibilidade. Por que resistir?”, indaga Patricia Andrade Ladeira, especialista em marketing digital. Porém, essa facilidade de acesso a informações e a pessoas a qualquer hora e lugar traz consequências indesejadas ao dia a dia.
“Os jovens da geração Y têm apresentado dificuldades na atenção e concentração, mas eles são frutos da tecnologia. A quantidade de estímulos, o que focar e as informações curtas com conteúdo enxuto dificultam jovens ou indivíduos que não têm hábito de leitura em se dedicar a tarefas que exijam mais concentração, maior tempo, conteúdo, que são monótonas e em uma forma de apresentação que não digital”, realça Renata Alves Paes, neuropsicóloga e doutora em neurociências.
“Essa avalanche de informações supera nossa capacidade de apreensão, fazendo que em muitas vezes perca-se o foco do mundo real”, complementa Márcia Mathias, psicóloga. Por isso, parece cada vez mais desafiador entregar a tempo aquele relatório para seu chefe ou estudar de forma adequada para uma prova difícil na sexta-feira.
Feito droga
Essa quantidade enorme de informação a ser absorvida também traz influências ao nosso organismo. Uma delas é a liberação de noradrenalina na corrente sanguínea, hormônio secretado pelas glândulas suprarrenais. “Isso gera um efeito contrário sobre os neurônios corticais, deixando a pessoa muito alerta e excitada, dificultando a concentração e o bom desempenho da memória”, explica Márcia.
Além de o corpo estar mais alerta, ficar o tempo todo conectado ativa a dopamina no cérebro, hormônio associado ao nosso prazer e bem-estar. Pode parecer uma revelação boa, digna de um “curtir”, mas é bom não cair nessa. “Em estudos, esse neurotransmissor foi associado a jogos de azar, drogas e exercício físico. Por isso, cada vez mais se fala em dependência de internet, que está presente nos celulares e redes sociais”, explica Renata.
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Texto: Ricardo Piccinato Edição: Angelo Matilha Cherubini
Consultorias: Márcia Mathias, psicóloga; Patrícia Andrade Ladeira, especialista em marketing digital e atual coordenadora do “Estudo Sobre o Comportamento do Brasileiro nas Redes Sociais”; Renata Alves Paes, doutora em neurociências, psicóloga cognitivo-comportamental e neuropsicóloga.