Na noite de 1º de março, uma reportagem do Dráuzio Varella no Fantástico gerou comoção e movimentou as redes sociais, ficando entre os Trending Topics do Twitter ao longo da semana. A matéria, que falava sobre a rotina de mulheres transexuais que vivem em presídios no Brasil, porém, ganhou várias reviravoltas, polarizando opiniões e ganhando destaque em outras emissoras.
O quadro provocou muitos elogios, mas também muitas críticas por não ter revelado os crimes das entrevistadas. Em relação às opiniões negativas, o programa se pronunciou neste domingo (8), enfatizando que não era esse o objetivo da reportagem, pedindo desculpas e apoiando a postura tomada pelo médico.
Drauzio, além de divulgar uma nota de esclarecimento, também gravou um vídeo nesta terça (10), expondo o seu ponto de vista. “Não há o que falar. É um crime que choca todos nós”, afirmou. Ele também pediu desculpas para os parentes da vítima. “Posso imaginar a dor e peço desculpas para a família do menino que foi involuntariamente envolvida no caso”.
Entenda todo o caso Suzy e a repercussão da reportagem do Dráuzio Varella no Fantástico
O começo
No decorrer dos 13 minutos da reportagem, o médico entrevista personagens típicos, que relatam situações de preconceito, abandono e descaso. Em um dos momentos mais tocantes, Drauzio pergunta a uma delas, chamada Suzy de Oliveira, qual foi a última vez que recebeu uma visita. Visivelmente abalada, ela responde que faz uns sete ou oito anos.
Um silêncio se estende por alguns segundos, até que Drauzio, em um ato de solidariedade e respeito diz: “Que solidão né, minha filha” e abre os braços para recebê-la em um abraço sensível. Não demorou para que o gesto repercutisse e virasse um dos assuntos mais comentados do domingo. Milhares de internautas se emocionaram e exaltaram a atitude do médico.
Há muitos anos, Drauzio Varella trata como GENTE os cidadãos mais marginalizados da sociedade. Sempre foi um homem à frente de seu tempo. #Fantastico
— PAULO VIEIRA (@PauloVieiraReal) March 2, 2020
Drauzio Varella é um espírito de luz. Parabéns a todos pela reportagem sobre mulheres trans na cadeia. Merecem um prêmio. <3
— Silva_br (@bruno_ibis) March 2, 2020
O crime
Após a grande movimentação criada pela reportagem do Dráuzio Varella no Fantástico, principalmente em relação ao caso de Suzy, outros veículos investigaram o motivo pelo qual ela estava presa em regime fechado.
De acordo com o processo e a Secretaria da Administração Penitenciária, o motivo da prisão de Rafael Tadeu de Oliveira dos Santos, nome de batismo de Suzy, foi pelo fato de estuprar e matar, por estrangulamento, Fábio dos Santos Lemos, de 9 anos, em maio de 2010. Os dados foram levantados e confirmados pelo site ‘O Antagonista‘, em 7 de março.
Com a divulgação das informações, as redes sociais se tornaram um campo de discussões e debates fervorosos sobre a índole de Drauzio Varella, julgamentos a respeito da veiculação da matéria em rede nacional pela Globo e condenação de Suzy.
Nota de Drauzio Varella
Após toda a repercussão, o médico publicou uma nota de esclarecimento, explicando seu posicionamento e postura diante da entrevistada.
“Há mais de 30 anos, frequento presídios, onde trato da saúde de detentos e detentas. Em todos os lugares em que pratico a Medicina, seja no meu consultório ou nas penitenciárias, não pergunto sobre o que meus pacientes possam ter feito de errado. Sigo essa conduta para que meu julgamento pessoal não me impeça de cumprir o juramento que fiz ao me tornar médico. No meu trabalho na televisão, sigo os mesmos princípios. No caso da reportagem veiculada pelo Fantástico na semana passada, não perguntei nada a respeito dos delitos cometidos pelas entrevistadas. Sou médico, não juiz”, declarou.
View this post on InstagramA post shared by Portal Drauzio Varella ?⚕️ (@sitedrauziovarella) on
Carta de Suzy
Ao tomar conhecimento sobre as discussões em torno da reportagem do Dráuzio Varella no Fantástico, a advogada de Suzy, Bruna Castro, publicou em seu Instagram uma carta escrita pela presidiária. Nela, Suzy conta que errou, mas nunca tentou parecer inocente
“Eu Suzi Oliveira, ‘Rafael Tadeu’, venho dizer que nas entrevistas ao jornal Fantástico não me foi perguntado nada referente ao B.O. (Boletim de Ocorrência). Eu sei que eu errei e muito. Em nenhum momento tentei passar como inocente e desde aquele dia me arrependi verdadeiramente e hoje estou aqui pagando por tudo que eu cometi… Errei sim e estou pagando cada dia – cada hora e cada minuto aqui neste lugar… Antes não tive essa oportunidade, agora eu estou tendo apenas que pedir perdão pelo meu erro no passado…”.
View this post on InstagramA post shared by ʙʀᴜɴᴀ ᴘᴀᴢ ᴄᴀsᴛʀᴏ (@brunacastrocriminal) on
O pronunciamento da mãe do menino morto por Suzy
Nesta segunda (9), Aparecida dos Santos, a mãe da vítima, falou pela primeira em entrevista à RedeTV! sobre como se sentiu ao ver a reportagem no Fantástico e sua indignação.
“Pra mim, foi um baque muito grande. Inclusive, quando eu vi a matéria, fiquei até com dor de cabeça. Eu tô tremendo até agora“, revelou. Sobre o momento que se sentiu mais revoltada, a empregada doméstica contou: “Foi dele receber um abraço, receber cartinha, e ainda receber bombonzinho na prisão? Eu recebi o quê? Nada! Nada nesses dez anos“.
Globo pede desculpas por reportagem
Na noite desta terça (10), durante o Jornal Nacional, William Bonner leu uma nota com o posicionamento da TV Globo após a repercussão negativa do caso — e a “descoberta” que Suzy havia estuprado e assassinado um menino de 9 anos.
“Pelos mesmos motivos do Dr. Drauzio Varella, também o Fantástico e a Globo pedem desculpas à família da vítima e a todos os telespectadores. A trans Suzy não foi presa por roubo, nem furto. Ela cumpre pena de prisão por estupro e assassinato de um menino. Apenas depois da exibição do quadro, o Fantástico tomou conhecimento da gravidade do crime. E só hoje, a Globo se manifesta com mais clareza sobre o assunto, porque respeitou protocolos de segurança. Protocolos que autoridades públicas não seguiram.”
Leia também:
- Notícias que nos fazem pensar sobre os transexuais
- Projeto busca acolher pessoas LGBT que foram expulsas de casa
- Carol Duarte fala sobre sua experiência como personagem trans