Uma pesquisa científica liderada por um pesquisador alemão e divulgada pelo Journal of Topics in Cognitive Science propõe que o cérebro dos idosos seja observado como o disco rígido do computador. Ou seja, um ambiente repleto de dados que, com o passar do tempo, demora mais para acessar suas informações. Para os cientistas, essa lentidão associada a um declínio do processo cognitivo e ao enfraquecimento do cérebro estaria ligada apenas à quantidade de dados armazenados nele, portanto, à experiência acumulada. A tese defendida foi exemplificada a partir de testes de computador que, ao acessar uma grande quantidade de dados, tinha processo cognitivo semelhante ao de um cérebro adulto.
Sabemos que o cérebro de uma criança em desenvolvimento tem capacidade maior de adaptação e aprendizado do que o de uma pessoa idosa. Dessa forma, quanto mais idade a pessoa tiver, mais terá que se empenhar em qualquer atividade. “A capacidade de reter conteúdos ligados à memória de curto prazo no idoso é inferior quando comparado ao de uma criança ou de um adulto, assim como o cérebro infantil está mais apto a aprender um idioma diferente”, observa Fábio Roesler, neuropsicólogo especialista em neurofeedback. No entanto, é importante destacar que a eficácia de uma aprendizagem está relacionada à sua continuidade e aplicação na discussão, argumentação e problematização. O neurologista Carlos Bosco explica que esse processo de maturidade e envelhecimento, com redução da formação de sinapses neurais e da capacidade de adaptação das redes neurais aos estímulos externos, tem seus primeiros efeitos a partir dos 40 anos.
Funções prejudicadas?
De acordo com a psicoterapeuta Mônica Pessanha, não é comum que a funcionalidade mental do indivíduo seja alterada durante o envelhecimento. “Idosos saudáveis e sem problemas físicos podem ser bastante produtivos física e intelectualmente. Acontece que, principalmente por volta dos 50 ou 60 anos, a capacidade de armazenar informações começa a sofrer um processo de deterioração, ainda que lento”, revela.
Segundo Pessanha, é um erro pensar no envelhecimento como um período apenas de declínios e perda das competências, porque a forma como pensamos e nossos hábitos em geral fazem muito mais diferença na busca por maturidade, por um cérebro saudável e melhor aproveitamento das funções. “Isso significa que devemos incentivar os idosos a contarem histórias de suas vidas, lerem e escreverem, assistirem a filmes, tocarem instrumentos – algo que, inclusive, ajuda na coordenação motora – entre outras coisas”, completa a profissional.
O tempo a favor
Um relatório divulgado em 2015 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostra que a expectativa de vida no Brasil aumentou 9,2 anos entre 1990 e 2014. Essa mudança tem feito com que o período que vai dos 50 aos 80 anos, aproximadamente esteja sendo cada vez mais reconhecido, como um momento de muita produtividade. Ainda que, ao passar dos anos, os mais velhos esqueçam, por exemplo, o nome das pessoas, outras habilidades surgem mais aguçadas, como a de formar juízos mais exatos sobre os indivíduos e situações relacionadas a finanças.
Estudos desenvolvidos por pesquisadores da Universidade de Duke, localizada na Carolina do Norte (EUA) e apresentados no livro O Melhor Cérebro Da Sua Vida: Segredos e Talentos da Maturidade, de Barbara Strauch, mostram que o cérebro da meia idade se adapta bem a novas situações e, em vez de desistir e ceder ao envelhecimento, procura resistir. Outra vantagem é a capacidade de lidar de forma mais tranquila com emoções e informações ao valorizar o que realmente é importante e deixar de lado o que não precisa de preocupação.
Texto: Carolina Firmino
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