Você já sentiu como se algum homem, seja ele seu chefe, companheiro, superior ou subordinado, a intimidava ou a reprovava quando tentava expor uma opinião? Por meio de interrupções desajeitadas ou infundadas, ameaças e até mesmo sutilezas como uma espécie de desdém gratuito, homens praticam o “manterrupting“. O termo usado para classificar o assédio moral praticado pelo sexo masculino aos discursos de mulheres por intermédio da intermissão da fala, a fim de descreditá-la.
O caso de Gabriela Prioli
A desaprovação dos discursos vem de forma sutil e muitas vezes naturalizada pela figura da autoridade, por exemplo. Visto que mulheres ainda são a minoria a ocupar cargos de alto escalão dentro das companhias. Porém, a diferença é facilmente percebida quando é muito mais fácil para um homem discordar da opinião de outro após escutá-la.
Com uma mulher, o corte vem mesmo antes da formulação completa do raciocínio, como se partisse do princípio que a conclusão seria frágil de alguma forma. Não é incomum que elas tenham mais dificuldade em se colocar à frente durante reuniões e debates, principalmente quando também sente medo da reprovação.
O fenômeno do “manterrupting”, que configura a ‘cultura’ da interrupção, chamou a atenção após o afastamento de Gabriela Prioli do programa ‘O Grande Debate‘, da CNN Brasil. A polêmica começou quando a advogada criminalista e mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (USP), discutia sobre a decisão de relaxamento da prisão preventiva do ex-deputado Eduardo Cunha, em meio a crise gerada pelo novo coronavírus.
No debate, Prioli foi interrompida diversas vezes tanto pelo apresentador Reinaldo Gottino, quanto pelo comentarista Tomé Adduch, que não a deixavam formular uma linha de raciocínio sobre sua opinião. Frustrada com a situação, resolveu desabafar em suas redes.
A decisão veio logo depois. A advogada optou por deixar o programa. O caso também se deu por encerrado na CNN Brasil após um pedido de desculpas dos ex-colegas de trabalho da apresentadora. No entanto, a realidade é que a situação exposta durante a atração está longe de ser superada pelas centenas de milhares de mulheres que se sentiram representadas por Gabriela naquele momento.
Vale ressaltar que a única diferença é que a advogada tem anos de experiência em debates e, mesmo diante das dificuldades enfrentadas, se fez ser escutada pelos colegas, cenário poucas vezes protagonizado por uma mulher na TV e, provavelmente, raro dentro dos lares.
O que é manterrupting e mansplaining?
O caso Gabriela Prioli, diante da discussão sobre os privilégios masculinos, fez com que o assunto não fosse esquecido e sim estudado. As buscas pelo termo “mansplaining” subiram 495% no Google em 24h. Além disso, as perguntas mais elaboradas na plataforma na última semana foram: “o que é ‘mansplanning” e “o que é manterrupting”.
Para quem não sabe, as expressões são irmãs. O “mansplaining” se configura quando um homem começa a explicar para uma mulher não só o que ela já sabe mas aquilo que ela já estava esclarecendo a ele. A situação pode acontecer de forma evidente, como no caso enfrentado por Prioli, ou até mesmo disfarçada de simpatia. Um bom exemplo disso é quando alguém do sexo masculino, em ato de “defesa”, repete o que foi dito por uma mulher anteriormente para “elucidar melhor o que ela havia tentado falar”.
O “manterrupting”, por sua vez, é quando um homem interrompe uma mulher de forma desnecessária, sendo conscientemente ou não. O termo apareceu pela primeira vez no artigo “Speaking while Female”, de 2015, escrito por Sheryl Sandberg, chefe de operações do Facebook, e Adam Grant, professor da escola de negócios da University of Pennsylvania. A pesquisa citou um estudo feito por psicólogos de Yale que mostra como senadoras americanas se pronunciam significativamente menos que seus colegas masculinos de posições inferiores.
O aumento significativo das buscas pelos termos, que alcançou seu pico em 668% na última segunda (30), indica que a conscientização sobre esses atos repressivos e paternalistas é mais do que necessária para ambos os sexos, buscando, gradativamente, a diminuição de suas ações.
Além dessas, ainda existem outras duas palavras para tratar do assédio moral sofrido pelas mulheres. O bropropriating, quando um homem se apropria de uma ideia criada por uma mulher e leva os créditos por ela, e o gaslighting, uma manipulação psicológica que leva a pessoa do sexo feminino a acreditar que está equivocada sobre um determinado assunto, sendo que originalmente está certa.
Não há dúvidas de que mulheres de todas as regiões do planeta nem sequer sabem que são julgadas antes mesmo de expressarem suas opiniões.
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