Comentar sobre um evento da maneira que não ocorreu ou jurar de pés juntos que ouviu alguém dizer tal coisa – que na verdade não disse – podem ser consideradas mentiras descaradas. Porém, há quem realmente acredite na história que está dizendo devido a falsas memórias, também conhecidas por serem uma lacuna no cérebro de algumas pessoas, causadas por lesões ou de forma sugestionada.
De onde surgem as falsas memórias
Lembranças que não correspondem à realidade dos fatos, mas que a pessoa as identifica como sendo verdadeiras, são consideradas “falsas memórias”. Podem ser criadas a partir de um processo semelhante ao sonho. “Algumas lesões da artéria comunicante anterior cerebral afetam o cérebro em áreas próximas ao tronco; assim, as áreas mais primitivas do órgão criam uma inserção mnêmica”, explica a psiquiatra Julieta Guevara.
Apesar de não se tratar de uma patologia, o tema ganhou destaque nos Estados Unidos, na década de 1990, com as pesquisas da psicóloga norte-americana especialista em memória humana Elizabeth Loftus, em razão de algumas condenações embasadas no relato de vítimas que apontaram como autor a pessoa errada.
Diferente de alguém mentiroso – ciente de dizer algo que não é verdade – a principal característica de quem sofre desse distúrbio é acreditar naquilo que diz. De fato, Loftus mostrou como crianças e adultos podem evocar memórias sugeridas dentro de um contexto relacionado, em um processo chamado de sugestão de falsa informação. “Nas falsas memórias, os indivíduos são condicionados a inserir conteúdo falso numa memória real”, revela Guevara.
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Texto: Juliana Borges/colaboradora e Larissa Faria – Edição: Victor Santos
Consultorias: André Gustavo Lima, neurologista especialista em doença cerebrovascular pelo Hospital Santa Maria de Lisboa, em Portugal; Julieta Guevara, psiquiatra e diretora da Neurohealth – Centro de Métodos Biológicos em Psiquiatra no Rio de Janeiro (RJ); Maria Cristina De Stefano, psiquiatra; Sander Fridman, psiquiatra no Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro (RJ).