Alguma vez você já teve uma recordação que jurava de pés juntos que era verdadeira, mas não era? Segundo o psiquiatra Sander Fridman, as falsas memórias podem ocorrer em pessoas sem doenças cerebrais identificáveis e variam muito em termos de gravidade, repercussões e prejuízos sociais ou pessoais. Entenda, a seguir, em que elas podem aparecer.
Pessoas mais vulneráveis às falsas memórias
Quando possui falsas memórias, o indivíduo não tem a intenção em criar tais recordações, mas o cérebro reorganiza as informações originalmente guardadas de uma maneira muito peculiar conforme absorve novos dados. “Ao tentar compor momentos mais completos, principalmente do passado, a pessoa duvida da própria capacidade e dá espaço para acreditar no que o outro está afirmando, causando essa ‘reciclagem’ de informação armazenada”, explica a psiquiatra Maria Cristina De Stefano.
Crianças e adultos podem criar memórias falsas, por exemplo, quando pressionados a falar sobre algo que não têm nenhum conhecimento ou não lembram. Para o neurologista André Gustavo Lima, também há a possibilidade de ser um sintoma ligado a algumas síndromes, como amnésia, demência e afasia (perturbação da formulação e compreensão da linguagem), estando relacionado às alterações de memória da consciência.
Confabulações
As confabulações consistem em outra situação. Como o próprio nome sugere, a palavra fabulação vem do substantivo fábula, que significa conto, fantasia. “O paciente cria memórias detalhadas e bizarras para preencher lacunas de memória”, descreve a psiquiatra Julieta Guevara. No entanto, trata-se de uma doença, diferente das memórias falsas (que são induzidas por sugestões relacionados ao evento ocorrido). “As áreas do cérebro lesionadas são maiores na confabulação e, comumente, relacionadas ao abuso de álcool”, afirma a profissional.
Dentre suas diferentes origens, podem ocorrer em situações de ameaça à integridade física, pois a atenção está dirigida para percepções e atos de sobrevivência. “Quando alguém conta uma história paralela, plausível, contamina o relato, podendo incluir memórias irreais”, completa a especialista.
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Texto: Juliana Borges/Colaboradora e Larissa Faria / Colaboradora – Edição: Victor Santos
Consultorias: André Gustavo Lima, neurologista especialista em doença cerebrovascular pelo Hospital Santa Maria de Lisboa, em Portugal; Julieta Guevara, psiquiatra e diretora da Neurohealth – Centro de Métodos Biológicos em Psiquiatra no Rio de Janeiro (RJ); Maria Cristina De Stefano, psiquiatra; Sander Fridman, psiquiatra no Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro (RJ).