Apesar de pouco recorrente no Brasil, o albinismo também existe por aqui. Infelizmente, a falta de informações e o preconceito em relação à deficiência causam problemas aos portadores, inclusive levando-os à morte prematuramente por não saberem da gravidade de sua condição nem como se cuidar ou tratá-la. Contudo, há iniciativas que já buscam mudar essa realidade.
Sem cor e sem proteção
O albinismo é uma desordem genética associada à deficiência da melanina, pigmento que dá cor à pele, aos cabelos e aos olhos e tem a função de proteger a pele contra a radiação solar. Indivíduos portadores de albinismo têm, portanto, pele clara – por conta da ausência da melanina – extremamente sensível e suscetível ao câncer de pele, além de problemas oculares que são bem específicos e característicos, como a fotofobia, o estrabismo, entre outros.
De acordo com a dermatologista especializada em Clínica Médica e Dermatologia, Carolina Marçon, como as pessoas portadoras de albinismo não têm a produção de melanina, a pele desses indivíduos é completamente desprotegida, o que exige diversos cuidados. “A melanina é um pigmento que, quando recebe a radiação na pele, tem um estímulo para a produção e forma uma espécie de ‘capinha’ ao redor do núcleo da célula, que tem a função de proteger o DNA contra o dano causado pela radiação. Eles não podem, de jeito nenhum, se expor nos horários entre 10h e 16h. Em outros horários, é necessária a proteção solar, com o uso do protetor solar ou com o uso de roupas com tecido apropriado que impede a radiação de atingir a pele”, comenta.
Cuidando desde cedo
A doutora pontua que essa proteção deve ser feita desde a infância da pessoa com albinismo, uma vez que a falta de cuidado pode acarretar em uma série de problemas na fase adulta. “Os cuidados são fundamentais, porque o dano vai se acumulando e, na mais tarde, começa a se manifestar. Se a proteção for feita desde a infância, evitando a exposição ao sol, é possível chegar à idade adulta com a pele completamente saudável”, afirma.
Além disso, é recomendado que pessoas portadoras de albinismo façam a suplementação de vitamina D, já que 90% desse tipo de nutriente adquirido pelo corpo vem da exposição ao sol. “Outra questão importante é a oftalmológica. Se diagnosticada na infância, uma criança albina tem a possibilidade de um desenvolvimento estudantil normal. Hoje, existem vários tratamentos para adequar essa criança com deficiência visual ao ambiente”, ressalta Carolina.
Um auxílio necessário
Invisíveis aos olhos do poder público, já que não consta em nenhum tipo de pesquisa ou censo demográfico, a população albina brasileira tem dificuldade de encontrar informações e auxílio especializado a seus problemas e, consequentemente, tomar os devidos cuidados com a saúde para evitar complicações futuras. Sabendo disso, o doutor e professor de Dermatologia, Marcus Maia, criou, em conjunto com outros professores da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), o Pró-Albino, que tem como objetivo prevenir, diagnosticar, tratar e acompanhar os pacientes com albinismo.
Segundo Marcus, a ideia de desenvolver o programa, que faz uma abordagem multidisciplinar do albinismo – a equipe do projeto conta com dermatologistas, oftalmologistas, psicólogos e assistência social -, veio da necessidade de realizar o diagnóstico precoce do câncer de pele. “As pessoas chegavam aqui com câncer extremamente avançado e, em alguns casos mais graves, até perdíamos alguns pacientes em função desse câncer. Chegamos à conclusão, portanto, que precisaríamos fazer esse acompanhamento no albino bebê. O problema do albino é muito maior do que a gente imagina. E a única forma de ajudá-los é incluí-los socialmente na saúde, na educação e na profissão. Isso nos estimulou a criar uma política de inclusão social para este grupo”, afirma o doutor.
Texto: Redação Alto Astral | Consultorias: Carolina Marçon, dermatologista especializada em Clínica Médica e Dermatologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP); Marcus Maia, doutor e professor da disciplina de Dermatologia da FCMSCSP
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