Todo complexo mecanismo que envolve a percepção do prazer no cérebro foi fundamental ao longo da evolução, incentivando comportamentos favoráveis à preservação das espécies. Contudo, hoje é fato que muitas substâncias – lícitas e ilícitas – são capazes de elevar consideravelmente o nível de dopamina a ser liberado. Consequentemente, a sensação de bem-estar se intensifica de maneira incomum, e o organismo tende a desenvolver um vício nos estímulos.
Drogas como o álcool, a heroína e a cocaína causam um impulso repentino do neurotransmissor para o núcleo accumbens. Conforme o uso se repete, a produção natural de dopamina cai, e essa área passa a se comunicar com o córtex pré-frontal em uma combinação perigosa: o indivíduo não só sente um intenso bem-estar, como passa a ser dependente de químicos que retomem a produção dopaminérgica.
Porém, não é todo psicoativo que perturba o circuito de prazer do cérebro. Os antidepressivos e os psicodélicos provocam alterações no sistema nervoso, mas não o torna subordinado à esses efeitos.
Vício doce
De acordo com uma pesquisa realizada na Universidade de Queensland, na Austrália, os efeitos do açúcar na produção de dopamina do organismo são similares aos de drogas, como a cocaína, o tabaco e as morfinas.
A curto prazo, o efeito é um bem-estar instantâneo que, a partir do consumo frequente, leva a uma redução dos níveis do neurotransmissor no cérebro. Essa diminuição nos obrigaria a consumir quantidades cada vez maiores de açúcar para conseguir obter o estímulo de recompensa e evitar quadros depressivos.
Segundo os pesquisadores, animais que mantêm alto consumo de açúcar na fase adulta podem enfrentar, além do sobrepeso e diabetes, consequências neurológicas e psiquiátricas.
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Texto: Angelo Matilha Cherubini/Colaborador – Edição: Giovane Rocha/Colaborador