As perdas de memória são um dos sinais da presença do Alzheimer. “No início, começam disfarçadamente, com falhas sutis e desculpáveis da memória, como quando a pessoa esquece onde deixou objetos pessoais, cartas, a senha do computador”, indica o neurologista Martin Portner.
Contudo, o neurologista André Gustavo Lima aponta que o esquecimento típico da demência é diferente daquele do dia a dia. Uma pessoa pode se esquecer de uma reunião agendada, mas quando alguém a avisa, ela logo lembra. “No caso do paciente com Alzheimer, ele não só esquece a reunião como sequer se lembra de tê-la marcada, mesmo que a veja escrita com sua letra em uma agenda”, enfatiza André.
No começo
Esses tipos de esquecimentos são típicos da fase inicial. “Em geral, é o sintoma mais proeminente e precoce, principalmente da memória declarativa episódica”, destaca Fernanda Terribili, geriatra. Além da dificuldade de recordar datas, nomes familiares e fatos recentes, pode vir a incapacidade para reconhecer o estado da própria doença ou a falta de consciência do déficit cognitivo.
“Alguns indivíduos apresentam alterações de linguagem, como dificuldade para encontrar palavras. No trabalho, é mais difícil lidar com situações complexas e aprender de fatos novos”, exemplifica Fernanda. Outro traço que pode indicar o distúrbio é a confusão espacial: “por exemplo, um lugar onde a pessoa sempre ia mas, repentinamente se sente perdida, sem saber como sair dali ou ir embora”, descreve a gerontóloga Suyen A. Miranda.
Fase intermediária
À medida que a doença avança, os déficits de memória ficam maiores. “Também há o aparecimento de sintomas como afasia (perda da linguagem), agnosia (perda ou deterioração da capacidade para reconhecer ou identificar objetos apesar de manter a função sensorial intacta), alterações visuoespaciais e visuoconstrutiva”, segundo Fernanda.
A geriatra esclarece melhor como ocorrem esses déficits no dia a dia. “Há dificuldade de nomeação de objetos, empobrecimento do vocabulário, perda de conteúdo e dificuldade de compreensão”. Também é seriamente afetada a capacidade de realizar cálculos, resolver problemas, organizar e planejar. “Com o tempo, o paciente passa a ser incapaz de realizar tarefas básicas, como se vestir e tomar banho”, constata André.
Além disso, a partir dessa fase, há a manifestação de sintomas neuropsiquiátricos, como “a agitação, a perambulação, a agressividade, os questionamentos repetidos, as reações catastróficas e os distúrbios do sono”, complementa Fernanda.
Comprometimento total
Na fase mais avançada da doença, todas as funções cognitivas ficam gravemente afetadas. Ocorrem ainda a instabilidade postural, a dificuldade para engolir comida e líquidos e muita dificuldade de se locomover. “É a perda total da capacidade de realizar tarefas da vida diária, tornando-se complemente dependentes. Ficam acamados e apresentam incontinência urinária e fecal”, relata Fernanda.
O neurologista Martin Portner enfatiza que, embora o Alzheimer seja capaz de consumir a pessoa lentamente, não se trata de uma doença letal. “A morte geralmente resulta de inanição geral, desnutrição e pneumonia”. Segundo o neurologista, a duração típica da doença é de oito a dez anos, podendo durar até 25 anos.
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Texto e entrevistas: Ricardo Piccinato – Edição: Augusto Biason/Colaborador
Consultorias: André Gustavo Lima, neurologista, membro do Departamento Científico de Doppler Transcraniano da Academia Brasileira de Neurologia e membro do Departamento Científico de Acidente Vascular Cerebral da mesma instituição; Fernanda Terribili, geriatra da clínica Doktor’s, de São Paulo (SP); Karina Hatano, médica do exercício e do esporte; Martin Portner, neurologista, mestre em neurociência pela Universidade de Oxford, escritor e palestrante; Roberto Debski, psicólogo, coach e master trainer em Programação Neurolinguística; Suyen A. Miranda; gerontóloga da Velhice Com Carinho.