Vinte pessoas reunidas fazendo uso de 75 microgramas de LSD cada uma. Poderia ser o relato de uma festa regada a drogas, se o episódio não tivesse ocorrido dentro de um consultório sob supervisão de 26 pesquisadores. Liderados pelo britânico Robin Carhart-Harris, os profissionais envolvidos no estudo — publicado na revista científica note-americana PNAS — buscaram mapear os efeitos da dietilamida do ácido lisérgico no cérebro.
Foi a primeira vez que um trabalho científico conseguiu identificar a atuação dessa substância no corpo humano. Para tal, os pacientes receberam, no primeiro dia, uma dose da droga e, no segundo, uma porção de placebo — composto utilizado em pesquisas para administrar reações nos participantes. Técnicas de mapeamento cerebral foram usadas para comparar as ondas cerebrais, a conexão entre as redes neurais e o fluxo sanguíneo no órgão em ambos os casos.
O estudo vem sendo encarado como uma “pesquisa-mãe”, já que abre caminho para uma nova e promissora área de investigação. Assim, o LSD e outras substâncias psicodélicas — sempre vistos como nocivos e sem interesse médico — podem passar a ser encarados como remédios psiquiátricos, com potencial, inclusive, para substituir alguns antidepressivos e ansiolíticos.
Uso médico do LSD
A pesquisa abriu caminho também para a possibilidade da utilização de psicodélicos no tratamento de determinados transtornos psicológicos e psiquiátricos. Segundo os cientistas envolvidos no estudo, o LSD permite que os pacientes experimentem estados de consciência diferentes daqueles encontrados nos distúrbios.
“O efeito de dessincronização cerebral está associado a uma atividade cognitiva mais fluida e dinâmica, que leva à interrupção de padrões de pensamento e comportamento viciosos, prejudiciais e repetitivos, típicos de inúmeros transtornos”, explica Eduardo Schenberg.
Outra substância com grande potencial para o uso psicoterapêutico é a ibogaína. Eduardo é diretor do Instituto Plantando Consiência, onde um estudo sobre o uso desse princípio ativo para tratamento de dependência química está em andamento. “Outros alucinógenos, como a ayahuasca, têm sido pesquisados para o tratamento de dependência de drogas, principalmente o álcool, e também contra o estresse pós-traumático”, aponta a farmacologista Rosana Camarini.
Uma outra pesquisa mostra que a bebida — feita a partir de plantas e utilizada em rituais — pode também ter efeitos no tratamento físico do câncer. Além delas, a psilocibina (cogumelos alucinógenos) e o MDMA (substância ativa do ecstasy) podem ajudar no tratamento da depressão, de vícios e da ansiedade, por exemplo.
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Texto e entrevistas: Augusto Biason/Colaborador – Edição: Giovane Rocha/Colaborador
Consultorias: Eduardo Schenberg, biomédico, neurocientista e diretor no Instituto Plantando Consciência; Rosana Camarini, farmacologista e psicobióloga