Imagine-se sentado em seu trabalho: a janela dá de frente para uma rua movimentada e, do outro lado, há uma construção. Você tenta se concentrar, mas ouve vozes altas, sons de escavadeiras e o barulho de uma britadeira. Todos esses estímulos indesejados são recebidos ao mesmo tempo pelo corpo, o que gera uma maior dificuldade em manter a atenção, favorecendo o surgimento de transtornos mentais. “Nas cidades grandes, existem muitos estímulos sensoriais que, em grande quantidade, causam estresse e fadiga em excesso devido à constante estimulação cerebral”, relata o psiquiatra Hewdy Lobo Ribeiro.
Além dessa absorção em demasia, outros fatores podem contribuir para nos deixar mais vulneráveis, como a exposição à violência, falta de organização, excesso de competitividade, escassez de vínculos afetivos, falta de tempo para o lazer, entre outros. “Não há uma causa única para algum tipo de disfunção; sempre é a interação de múltiplos fatores biológicos, psicológicos e sociais que aumentam as chances da pessoa desenvolvê-la”, explica Hewdy.
Há outra questão que pode interferir nesse processo, que é a maneira na qual a pessoa conduz seu dia a dia. “A rotina das grandes cidades tem se tornado algo muito prejudicial para a saúde, porém a forma com que se lida com essa nova situação ou estilo de vida que é o problema”, aponta a mestre em psicologia Letícia Guedes.
Aprenda a lidar
Apesar de a vida nas grandes cidades ser muito corrida e estressante, há a possibilidade de evitar certos transtornos se algumas práticas forem estabelecidas. O psiquiatra Hewdy Lobo Ribeiro dá dicas para se habituar a essa rotina.
- Organize seu tempo: crie uma agenda e estabeleça horários para cada atividade;
- Cuide de si mesmo: pratique exercícios físicos e mantenha uma alimentação balanceada;
- Promova mudanças: sempre que possível, modifique algumas práticas e hábitos, pois isso ajudará a sair da passividade;
- Veja diferente: se o trânsito está parado, não se estresse. Coloque suas músicas preferidas para tocar e tente relaxar.
- Busque se adequar: faça suas atividades em locais próprios para elas (por exemplo, refeições em casa ou em algum restaurante), durma entre seis a oito horas por dia, mantenha uma rede social de apoio (familiares e amigos) e separe um tempo para o lazer.
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Consultorias: Hewdy Lobo Ribeiro, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria (IPQ) da Universidade de São Paulo (USP), psiquiatra forense e psicogeriatra pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP); Letícia Guedes, psicóloga clínica, analista do comportamento, especialista em terapia comportamental cognitiva, mestre em psicologia e membro da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental (ABPMC).
Texto: Vitor Manfio/Colaborador – Entrevistas: Karina Alonso/Colaborador – Edição: Augusto Biason/Colaborador