Publicada no final de 2016, na revista Science Translational Medicine, uma pesquisa – liderada por especialistas do departamento de neurociência da empresa farmacêutica Merck – mostrou os resultados promissores de um novo tratamento para o Alzheimer, empregado em uma amostra de 32 pessoas identificadas com grau leve a moderado da doença.
O tratamento ministrado a esses pacientes utilizou um composto chamado verubecestat, uma pequena molécula de estrutura única que inibe a ação de uma enzima identificada como BACE1. Essa substância tem papel fundamental na produção das proteínas beta-amilóides, compostos que se amontoam em formas de placas no cérebro, o que afeta habilidades cognitivas como a memória – um dos principais sintomas do Alzheimer.
A grande “novidade” desse novo tratamento em relação aos lançados anteriormente são os efeitos colaterais. Enquanto os medicamentos já existentes no mercado causavam consequências tóxicas ao organismo do paciente, como problemas no fígado ou até mesmo degeneração dos neurônios, o verubecestat não mostrou nada. “Não foram observadas toxicidades com doses limitantes em estudos de toxicologia com animais ou em estudos em humanos de fase 1, reduzindo assim as preocupações de segurança levantadas por relatórios anteriores de inibidores de BACE1”, apontou a pesquisa.
Outro ponto que chamou a atenção dos estudiosos foi a baixa dosagem utilizada para diminuir os níveis de proteína – uma a duas doses – sem causar danos colaterais. Agora, os testes estão na chamada fase 3, na qual os ensaios clínicos vão avaliar a eficácia do verubecestat em novas situações. Caso os resultados sejam satisfatórios, o novo composto pode chegar ao mercado como pílula em 2019.
Uma dose de parcimônia
Segundo o neurologista Fabiano Moulin de Moraes, os resultados são promissores, mas é importante aguardar a evolução dos testes. “Outras medicações prévias, como vitamina E, antiinflamatórios orais e imunoglobulinas também já apresentaram resultados impressionantes nos trabalhos iniciais, mas falharam em estudos maiores e em seres humanos”, afirma. O especialista aponta que o diferencial do tratamento é sua ação direta na via da doença. Entretanto, os pesquisadores ainda têm dúvidas se as proteínas beta-amilóides são realmente o alvo mais adequado.
“Outro problema é que a doença começa anos ou décadas antes dos primeiros sintomas. Por isso, aguardar as queixas por problemas decorrentes do Alzheimer pode ser muito tarde”, alerta o neurologista. Por isso, Fabiano acredita que a prevenção ainda é o melhor caminho para evitar o surgimento da doença. “O envelhecimento do cérebro é uma construção de toda uma vida e de toda uma sociedade. Temos que lutar pelo privilégio de termos a máquina mais fantástica do universo dentro de nós”, completa.
LEIA TAMBÉM
- Atividade física e passatempos ajudam a combater o Alzheimer
- Veja 2 terapias importantes para melhorar a vida de quem tem Alzheimer
- Convivendo com o Alzheimer: dicas para melhorar a vida do portador
Texto e entrevistas: Thiago Koguchi – Edição: Augusto Biason/Colaborador
Consultorias: Fabiano Moulin de Moraes, médico neurologista pela UNIFESP/EPM e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia.