Anjos e demônios podem viver dentro de nós? Metaforicamente, sim. Não se trata do espírito angelical ou da energia diabólica, mas de emoções comuns a toda a humanidade que sustentam e ajudam a explicar esses dois símbolos antagônicos.
Segundo Jung
O psicoterapeuta e analista junguiano João Rafael Torres afirma que a psique abriga uma infinidade de anjos e demônios, conhecidos como complexos. O termo complexo, para os junguianos, representa um conjunto de imagens e emoções relacionadas a diferentes experiências humanas. São chamados de junguianos os estudiosos da psicologia analítica, criada pelo médico e psicoterapeuta suíço Carl Jung.
Mentira como complexo
Tome como exemplo o complexo da mentira. A mentira se organiza como um complexo a partir do momento em que uma pessoa passa a interiorizar emoções despertadas nas ocasiões em que tomou a decisão de faltar com a verdade.
“Esse complexo terá uma predisposição de funcionamento. Digamos que, ao longo da vida, uma pessoa tenha encontrado na mentira uma estratégia para escapar de situações nas quais se sentia insegura. Quando essa pessoa estiver diante de uma situação que remeta à mentira, reagirá a partir de uma espécie de script e acabará por mentir novamente”, explica Torres.
Dessa forma, o complexo irá se apropriar da consciência, já que o ato de mentir parecerá à pessoa mais forte do que ela mesma. “É como se fosse uma outra personalidade que nos possuiu”, reforça. Ou seja, anjos ou demônios, dependendo da característica do complexo.
Condução da psique
Esse mecanismo, de acordo com a psicologia analítica, é considerado natural. Variados complexos se revezam na condução da psique, dependo das condições em que foram formados e das vivências de cada indivíduo. O processo só se torna problemático quando um dos complexos domina completamente a consciência, impedindo que os demais se manifestem. “Na linguagem teológica, isso corresponderia à possessão demoníaca, na qual o ‘eu’ estaria subjugado, inviabilizado de suas decisões”, ilustra o analista.
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Consultoria: João Rafael Torres, psicoterapeuta e analista.
Texto: Fernanda Villas-Bôas – Edição: Natália Negretti