Um dos grandes obstáculos para quem sofre de problemas psíquicos é o preconceito. Não é incomum quadros depressivos serem considerados como “frescura” ou até mesmo “falta do que fazer”. Quem já foi vítima de situações parecidas sabe como isso é dolorido e agrava o problema. O transtorno bipolar (TB) talvez seja a patologia que mais sofra preconceitos, devido às profundas oscilações de humor, sujeitas a serem mal interpretadas sempre, e aos sintomas serem facilmente confundidos com outros problemas. Estima-se que 4% da população brasileira sofra de bipolaridade, embora boa parte não seja diagnosticada.
Alto-astral X baixo-astral
A principal característica do transtorno, em outros tempos chamado de psicose maníaco-depressiva, é a alternância de episódios e estados de euforia e depressão, com intensidade e frequência variável. Ou seja, a pessoa pode estar extremamente eufórica e disposta a tudo em um dia ou período e a seguir mostrar-se depressiva, melancólica. A presença de sintomas psicóticos (perda da noção de realidade, com ou sem alucinações) pode ser um indicativo da gravidade do problema.
O transtorno bipolar é uma doença crônica, ou seja, pode ser apenas controlado, não tem uma cura total. Mas é preciso tomar cuidado para não confundi-lo com alterações normais de humor, algo bastante comum. Não há nada de anormal em pessoas que demonstram suas emoções de forma intensa, sejam elas positivas ou negativas. “Todos nós temos oscilações de humor, a diferença entre as pessoas que possuem o transtorno bipolar é que esses quadros são mais extremos e duradouros do que aquelas mudanças vividas pelas demais pessoas”, destaca o psicólogo Yuri Busin.
Euforia
Talvez o estado de euforia seja o lado mais perigoso da doença. Em geral, não se associa esses episódios a algum problema psíquico, ao contrário do que acontece com a melancolia quando se percebe facilmente que a pessoa não está bem. Durante a euforia (ou mania, termo empregado na psiquiatria para se referir a estados exaltados do humor), o indivíduo apresenta sinais como sentimentos de grandiosidade, em que sente-se uma pessoa muito importante, inatingível e capaz de encarar grandes desafios.
“O paciente fica com a autoestima inflada, tem a necessidade de sono diminuída, fala excessivamente e, muitas vezes, não consegue sequer concluir uma ideia. Além disso, há um aumento de atividades prazerosas que causam alguma consequência dolorosa (como compras excessivas, investimentos tolos) e pode haver perda da inibição social”, explica o psicólogo.
Melancolia
Os principais e mais facilmente identificáveis sintomas do humor depressivo (seja em quem é bipolar ou não) são: angústia, desânimo, tristeza, sentimento de vazio e negatividade. Mas nem sempre quem tem transtorno bipolar manifesta tais sintomas quando passa por um episódio depressivo. Dependendo de vários fatores, como personalidade e ambiente, a depressão pode ser somatizada em cefaleias, dores de estômago, tonturas, falta de apetite, extrema sonolência ou insônia, etc. Quando essas alterações de humor passarem a ser notáveis, deve-se desconfiar do transtorno.
“Se os sintomas permanecerem pelo menos por uma semana e forem de um extremo a outro com grande intensidade e durabilidade deve-se procurar um profissional qualificado”, aconselha o psicólogo. Isso se torna ainda mais evidente quando se sabe que o TB pode não estar isolado. “São as chamadas comorbidades, em que o paciente apresenta sintomas de mais de um transtorno, por exemplo: Transtorno Desafiante, Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) ou Transtorno de Conduta (TC), entre outros”, acrescenta Busin. Com isso, o diagnóstico pode levar anos.
Consultoria Yuri Busin, psicólogo
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