As memórias não servem apenas para fazer lembrar em que lugar estacionamos o carro ou em que parte da história paramos de ler um livro. Na verdade, os fatos, cheiros, rostos ficam tão naturalmente gravados em nossa mente que nem nos questionamos como isso acontece e de que forma resultam em uma personalidade única à cada pessoa.
“Podemos definir a personalidade como um conjunto de características de funcionamento mental que se ajusta às normas sociais e culturais vigentes que, no entanto, diferenciam um indivíduo dos demais. A memória é equivalente à impressão digital, ou seja, é uma forma única e exclusiva de se relacionar com os outros”, define Martin Portner, neurologista e mestre em neurociência.
Aliás, as lembranças acumuladas dizem muito sobre alguém e são capazes de influenciar na busca pela felicidade – ou seja: quanto mais memórias alegres, maiores são as chances de ser feliz!
O cérebro seleciona as memórias?
Podemos dizer que o espaço do cérebro é inesgotável, ou seja: tudo pode ser gravado – mas nem tudo será lembrado. Isso porque existem coisas menos e mais importantes para serem recordadas, algo que é diferente para cada pessoa.
“Se você não lembrou é porque provavelmente aquilo não tem utilidade. Imagine que você vai passar pelo centro comercial de determinada cidade e acaba guardando na memória tudo o que viu. Terminando esse trajeto, talvez apenas 1% seja útil. O cérebro privilegia aquilo que estamos buscando, em um processo de percepção das coisas por meio da atenção. Então, dependendo do que for, aquilo pode ficar gravado por um curto período de tempo ou, ao ter um valor maior, ficar retido na forma de uma memória”, contextualiza o psiquiatra Mario Louzã.
Portner completa explicando que o contexto é que faz com que o cérebro decida, na hora, qual a relevância do evento a ser memorizado. “Se você for vítima de um acidente de carro, será capaz de recordar-se vividamente de todos os detalhes do evento – especialmente o horror de sentir-se girando dentro do veículo capotando. Agora, suponha que você precisa memorizar o mapa da Europa para a prova de geografia – as chances são de que você esqueça 20% das capitais dos países com que está menos familiarizado”, compara o neurologista.
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Texto e entrevistas: Carolina Firmino – Edição: Giovane Rocha/Colaborador
Consultorias: Mario Louzã, psiquiatra; Martin Portner, neurologista e mestre em neurociência pela Universidade de Oxford, nos Estados Unidos