A gestante pode ter a chance de pensar junto com o seu ginecologista e obstetra como e onde prefere dar à luz por meio de um plano de parto. O modo como isso acontece nem é o problema (pelo menos no plano da idealização, o chamado parto humanizado é amplamente defendido), mas o “onde” é alvo de diversas discussões.
Uma das polêmicas
Há alguns anos, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) proibiu que médicos atuassem em equipes de partos domiciliares, bem como a presença de obstetrizes, parteiras e doulas (profissionais que auxiliam física e emocionalmente a mulher durante o trabalho de parto) acompanhando as grávidas antes, durante e depois do parto no hospital.
A decisão, contudo, foi revogada pela justiça, que entendeu que tais medidas infringiam garantias legais, como o direito ao parto em residência e ao acompanhamento em ambiente hospitalar de pessoa da livre escolha da gestante. Para representantes do Conselho, a divergência já alcançou sua finalidade, que seria alertar as mães sobre os riscos do parto feito em casa. Mas, afinal, dar à luz no ambiente domiciliar é bom?
Posição favorável
O obstetra Jorge Francisco Kuhn concorda com o parto em casa, desde que sejam respeitadas algumas condições. “Para que o parto domiciliar aconteça, são imprescindíveis três requisitos: que a gravidez seja de absoluto baixo risco, sem qualquer intercorrência com a gestante ou o bebê durante todo o pré-natal; convicção profunda da mulher e do seu companheiro do desejo desse tipo de parto, assumindo, inclusive, os riscos inerentes a qualquer tipo de parto; e haver uma retaguarda médico-hospitalar a, no máximo, 20 minutos de distância da residência onde o parto está sendo realizado”, lista o especialista.
Segundo ele, sabe-se que partos realizados nessas condições têm risco igual aos feitos em hospitais, com a vantagem de que o primeiro sofre menos interferências, como o rompimento artificial da bolsa das águas, a indução de contrações por meio do hormônio ocitocina, a realização não solicitada ou desnecessária de anestesia ou episiotomia (incisão do períneo para facilitar a passagem do bebê); procedimentos que, de modo geral, visam acelerar o trabalho de parto.
Opinião contrária
“Quanto à humanização dos partos, ninguém questiona uma participação mais ativa da gestante, mas isso não pode colocar em xeque a prioridade da segurança materno-fetal. O parto domiciliar seria abrir mão disso, pois trata-se de um evento imprevisível”, contesta o obstetra Mário Macoto.
A crescente demanda pelo parto domiciliar, assim como outros meios de fazê-lo (parto de cócoras, na água, etc.) se deve, em boa medida, ao desejo de as gestantes quererem fugir das práticas convencionais de nascimento, especialmente a cesárea, por julgarem ser um processo frio, doloroso e que não propicia interações afetivas entre os envolvidos. Porém, hoje já é possível encontrar em grandes maternidades, públicas e privadas, serviços mais humanizados, como a disponibilização de suítes de parto, onde a paciente conta com banheiro privativo e infraestrutura para presença de familiares; tudo dentro de um ambiente hospitalar seguro.
Consultoria Jorge Francisco Kuhn e Mário Macoto, obstetras
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