O aumento frequente no número de diagnósticos de esquizofrenia gerou ainda mais atenção por parte de pesquisadores – e não é de hoje. Há pelo menos três décadas, profissionais de diversas áreas tentam entender o processo que desencadeia esse transtorno, principalmente quando envolve um dos órgãos mais importantes do corpo humano: o cérebro.
Diversas hipóteses foram levantadas por neurocientistas nesse período, dentre elas está a de possíveis danos em regiões responsáveis por funções importantes para uma vida considerada normal. “Pesquisas comprovaram a presença, em alguns casos, de alterações em várias partes do cérebro de pacientes com esquizofrenia, tanto na chamada área primitiva (que compartilhamos com as espécies das quais evoluímos), que é a região central do cérebro, procedente do tubo neural, quanto nas áreas mais recentes da evolução do córtex, que são o frontal e o pré-frontal, localizados na região periférica”, descreve o psiquiatra Carlos Hübner.
Essa disfunção no córtex pode ser a causa das dificuldades para interações sociais dessas pessoas, isso porque as capacidades de concentração e de planejar ações são diretamente afetadas. O psicanalista clínico Paulo Miguel Velasco também afirma que há a possibilidade de o hipocampo (ligado à memória) ter seu tamanho reduzido por conta do quadro.
Além disso, Carlos aponta que “foram detectadas alterações anatômicas/estruturais, mudanças na transmissão elétrica, nas respostas neuronais a estímulos e na distribuição e na quantidade de substâncias químicas produzidas pelos neurônios”.
E é exatamente nesse momento que desponta outro fator muito discutido por neurocientistas. “Vários são os neurotransmissores potencialmente alterados na esquizofrenia: inicialmente, o grande vilão era a dopamina”, relata Carlos. Essa substância está diretamente ligada com os sintomas comuns do transtorno, como as alucinações (principalmente as auditivas) e os delírios (perseguição ou, até mesmo, a sensação de possuir habilidades sobre-humanas).
Também podem ocorrer disfunções de outras substâncias, como a serotonina, a noradrenalina, a muscarina e o glutamato – essa última principalmente em referência ao lobo frontal, onde está localizado o córtex. Dessa maneira, de acordo com Paulo, “a sinapse (passagem de neurotransmissores por impulsos eletromagnéticos de um neurônio a outro) é prejudicada na esquizofrenia, retardando até mesmo os movimentos”.
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Consultorias: Carlos Hübner, psiquiatra pela University Heidelberg, na Alemanha, e professor na Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), em Sorocaba (SP); Paulo Miguel Velasco, psicanalista clínico.
Texto: Vitor Manfio/ Colaborador – Entrevistas: Giovane Rocha e Vitor Manfio/ Colaboradores – Edição: Augusto Biason/ Colaborador