“A enxaqueca é um tipo de dor de cabeça de forte componente genético causada por disfunções neuroquímicas e neurofisiológicas do cérebro”, define o neurologista Antonio Cesar Galvão, do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, em São Paulo.
É importante frisar que a ideia de que a enxaqueca é apenas uma dor de cabeça mais intensa é um mito, assim como destacar a variedade de suas características. Algumas pessoas sofrem o distúrbio todos os dias, outras uma vez ao mês, e ainda há aquelas que a enfrentam durante uma fase da vida e, depois, nunca mais.
Bem diferente de uma simples dor de cabeça – que todos podem ter em algum momento –, a enxaqueca pode vir acompanhada de náuseas e vômitos, fotofobia (sensibilidade à luz), fonofobia (problema com barulhos altos) e até osmofobia (intolerância a odores).
Como surge a enxaqueca?
Galvão explica que a maioria das enxaquecas começa na infância e na adolescência. “Após os cinco anos de idade, qualquer indivíduo com predisposição ao problema pode começar a ter crises de dor”, destaca. De acordo com o especialista, ainda que as dores de cabeça demorem a aparecer, crises cíclicas de vertigens e vômitos também podem ser um sinal do problema.
Também é pouco provável que alguém comece a sofre de enxaqueca depois dos 50 anos. “Após essa idade, ocorre uma redução gradual das crises, de modo que na velhice a maioria das pessoas fique curada”. Se as dores surgirem, é possível que não seja uma enxaqueca.
O paciente deve, então, procurar seu médico para fazer exames e investigar a causa. O neurologista Flávio Sallem, do Hospital do Coração e Hospital das Clínicas em São Paulo, acrescenta que mais de 50% dos pacientes com enxaqueca possuem histórico na família e que mães portadoras da disfunção têm mais chances de ter filhos que se queixem de dor de cabeça.
Não é só um incômodo
A enxaqueca mexe para valer com a rotina de quem sofre com ela. “Boa parte das pessoas com enxaqueca fica incapacitada durante a dor e tem prejuízos na sua vida pessoal, social e profissional”, destaca Antonio Galvão. O neurologista atenta para os cuidados com o distúrbio, que não devem ser negligenciados. A recomendação é que pessoas que sofram com quatro dias ou mais de enxaqueca no mês realizem o tratamento de forma preventiva, com medicamentos específicos.
Existem ainda as medidas alternativas, como a acupuntura e terapias cognitivo-comportamentais, como o biofeedback, que regula as reações fisiológicas e emocionais. Contudo, o especialista afirma que esses tratamentos são apenas auxiliares, pois sozinhos podem não eliminar enxaquecas crônicas.
É importante ainda se preocupar com o abuso de analgésico. Os indivíduos que possuem enxaqueca, desesperados por uma solução, acabam exagerando na ingestão de medicamentos que, muitas vezes, nem são os mais indicados. “Isso pode acarretar problemas emocionais – como ansiedade e depressão – que deverão ser tratados também. Em casos especiais, como nas gestantes, em que os remédios preventivos são contraindicados, a acupuntura pode ser a única alternativa possível”, explica o neurologista.
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Consultorias: Antonio Cesar Galvão, neurologista do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, em São Paulo (SP); Flávio Sallem, neurologista, do Hospital do Coração e Hospital das Clínicas, em São Paulo (SP)
Texto e entrevistas: Carolina Firmino – Edição: Augusto Biason/Colaborador