Perder algo ou alguém significativo nunca é fácil: de modo geral, a falta emocional vem acompanhada de muito sofrimento, medo e até culpa – sentimentos que, juntos, podem desequilibrar a rotina de qualquer pessoa. O luto, no entanto, não é exclusivo de momentos de morte de pessoas próximas: ele acontece no dia a dia, sempre que nos vemos diante da obrigação de abrir mão do que é importante para nós, mas não pode ser alcançado. Lidar com essa frustração é fundamental para ter uma vida mais feliz e psicologicamente saudável.
Bom ou ruim?
Para a psicóloga Gabriela Casellato, especialista em luto, ficar confuso, triste e abatido a partir de uma perda não pode ser considerado bom nem ruim: trata-se de um processo normal – e até esperado – de reação frente a uma situação difícil. “O que pode torná-lo ruim são os fatores de risco com potencial de agravar essa vivência, como as dificuldades secundárias à perda (por exemplo, as financeiras), problemas de saúde associados, isolamento social, entre outros”, comenta. Ela explica que o luto promove uma situação de crise, pois mobiliza mudanças importantes e definitivas na vida, na rotina e na identidade do indivíduo, sem que, necessariamente, ele esteja preparado para elas. Por isso, pode ser vivido de forma estressante ou com períodos de estresse agudo, que refletem a adaptação à nova conjuntura. A qualidade desse processo varia bastante conforme o caso, mas uma coisa é certa: o luto precisa ser encarado de frente.
Fugir é o pior remédio
Superar uma perda é um processo bastante pessoal, que só quem está vivendo a situação pode gerenciar. O tempo que isso irá levar é incerto e depende das condições emocionais da pessoa enlutada (ligadas, inclusive, à sua história de vida), de como ocorreu a perda e do impacto dessa ausência para o dia a dia de quem ficou. O que não é, de forma alguma, recomendado, é a esquiva do problema: afinal, a dor continuará lá mesmo que ninguém olhe para ela, e poderá causar danos cada vez maiores para as emoções se não for expressa e efetivamente vivida. “O enlutado precisa respeitar o seu tempo e a sua forma de reagir, sem se comparar aos outros, sem se forçar a fazer coisas para as quais não se sente preparado”, diz a especialista. “Mas, ao mesmo tempo, deve se esforçar para dar novos passos e recomeçar”, completa.
O tempo de cada um
Nesse sentido, o respeito da família e dos amigos ao tempo psicológico de quem está sofrendo por um processo de luto é mais do que essencial. Esse apoio envolve paciência, confiança e abertura para lidar com os sentimentos da pessoa enlutada, prezando sempre pelo seu bem-estar real, além, é claro, do próprio controle das emoções. Não há dúvidas de que é difícil ver quem se ama em profundo sofrimento: o problema é que essa angústia dos familiares (e da cultura ocidental, que não valoriza o enfrentamento da dor) os leva, muitas vezes, a encorajarem uma superação rápida do luto. A pressa pode ser danosa ao processo como um todo, refletindo-se no isolamento de quem sofre ou no abandono precoce dos esforços no enfrentamento da situação. “A melhor forma de superar o luto é vivê-lo dentro dos próprios limites pessoais e com os recursos emocionais que se tem disponíveis”, resume Gabriela
As cinco fases do luto
Elas não são obrigatórias nem têm um tempo definido para começarem ou acabarem. Inclusive, nem todas as pessoas passam por todas as fases num processo de luto. Mas podem orientar o caminho da recuperação saudável de quem perdeu alguém muito importante. E vale a pena lembrar: é completamente normal sentir tudo o que está listado a seguir!
1- Choque
Tomar conhecimento da morte, mesmo que ela seja esperada, gera uma sensação de atordoamento, como se fosse uma flutuação emocional. Trata-se de uma reação fisiológica, mas que pode se tornar problemática se permanecer por muito tempo. Em geral, rituais de despedida, como velório e enterro, ajudam as pessoas a tomarem pé da realidade, até por verem a pessoa falecida e terem a chance de dizer adeus.
2- Negação
Superadas as questões práticas da morte, uma sensação de inquietação pode invadir a vida de quem ficou. Fica uma vontade irresistível de ver a pessoa de novo, que pode inclusive prejudicar o sono.
3- Raiva
Como consequência dessa agitação psicológica, o enlutado pode sentir raiva da equipe médica ou até de parentes e amigos, que (na fantasia de quem sofre) não fizeram o possível para evitar o pior. Também pode haver culpa: por coisas que não foram ditas, por atitudes que não evitaram a morte e até por sentir alívio após a perda.
4- Depressão
Quando a ansiedade diminui, a pessoa enlutada procura ficar sozinha e em silêncio. É o momento de sentir a tristeza da falta, da angústia, da perda de controle, e o sofrimento pode aparecer abruptamente. Nessa fase, respeito, compreensão e conforto são essenciais.
5- Aceitação
À medida em que se expressam as emoções de luto e se lida com elas, o sofrimento começa a se dissipar, abrindo espaço para a possibilidade de recomeçar. A pessoa começa, então, a olhar novamente para o futuro, embora a ferida invisível que traz no peito ainda demore bastante para cicatrizar.
Texto: Redação Alto Astral | Consultoria: Gabriela Casellato, psicóloga
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