“Na hora de fazer não gritou”. Muitas mulheres já tiveram que escutar essa frase na hora do parto, e infelizmente, essa é mais uma das formas da violência obstétrica no Brasil. Uma em cada quatro mulheres brasileiras vai sofrer com esse problema, segundo a Fundação Perseu Abramo e Sesc.
O momento do parto é aguardado com muita ansiedade pela maioria das mulheres grávidas. São cerca de nove meses se preparando para receber um novo membro da família, e por isso, todo mundo quer que esse momento seja perfeito! Mas infelizmente, durante o parto, muitas mulheres acabam passando pela violência obstétrica e nem se dão conta.
O que significa violência obstétrica?
Esse tipo de violência acontece quando o médico, obstetra ou enfermeiros fazem qualquer procedimento desnecessário, humilhante ou sem o consentimento da mulher. Entre os relatos da pesquisa, foram mostrados diversos casos de violência e desrespeito como: discriminação social, violência verbal (tratamento grosseiro, ameaças, reprimendas, gritos, humilhação intencional), violência física e até abuso sexual.
O que pode ser considerado violência?
- Negar atendimento correto ou humanizado para a gestante
- Impor dificuldades no atendimento
- Fazer comentários constrangedores
- Fazer comentários que propaguem qualquer preconceito de raça, gênero, religião, classe social, orientação sexual
- Sofrer humilhações ou negligências
- Ter a cesariana agendada sem necessidade comprovada
- Impedir a presença de acompanhante
- Realizar qualquer exame que machuque a gestante
- Realizar qualquer procedimento cirúrgico sem necessidade comprovada ou que machuque a gestante
- Atrasar o contato entre a mãe e o bebê
- Dificultar o aleitamento materno na primeira hora de vida
- Dar mamadeira ou chupeta sem a autorização da mãe nos berçários
Por ser um momento em que a mãe está totalmente concentrada no nascimento do filho, nem sempre ela vai perceber que a violência aconteceu naquele momento. Mas essa situação pode gerar um trauma futuro. “Os sintomas podem ser vários, como não conseguir mais transar com o marido, ter uma depressão pós-parto, pesadelos, entre outros”, conta Vera Iaconelli, diretora do Instituto Brasileiro de Psicologia Perinatal e doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo.
Por isso, se a mulher sentir que passou por essa situação, é importante procurar ajuda. “É importante que ela busque auxilio de alguma forma. Pode ser em uma terapia, conversando com uma amiga ou com o marido, em uma terapia em grupo, em grupos de discussão na internet, entre outras maneiras”, fala Iaconelli.
Como posso denunciar?
Embora não seja tipificada como crime, você pode exigir seus direitos se tiver sofrido violência obstétrica. Basta procurar a Defensoria Pública do município com cópia do prontuário médico, documento que registra todos os procedimentos pelos quais a mulher foi submetida desde que chegou ao hospital ou maternidade. Para obtê-lo é preciso procurar o setor administrativo da instituição e solicitá-lo. O único custo que pode ser cobrado é o de cópia das folhas. Além do auxílio jurídico, o MP de São Paulo fornece, durante o mês de março, oficinas que discutem o direito da mulher na assistência ao parto. Os encontros são às sextas-feiras, na Defensoria Pública (Av. Liberdade, 32, centro).
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