Felicidade, raiva, culpa, medo, vergonha, orgulho, tristeza… Não adianta: somos seres emocionais. Para que não tenhamos muitos prejuízos com essas emoções, é preciso saber lidar com elas e, assim, encontrar um equilíbrio para atingir uma maior inteligência emocional. Afinal, como explica a psicóloga Maura de Albanesi, “um ser humano que entra em contato com o que sente é capaz de expressar tudo isso de forma saudável, atingindo uma qualidade de vida superior”.
Cérebro emotivo
O funcionamento cerebral é um sistema complexo por si só, e quando se trata de como as emoções são “processadas”, o órgão parece uma via rápida com tráfego intenso. No entanto, ao invés de carros, são os neurotransmissores que o tumultuam. Eles são, basicamente, substâncias químicas mensageiras dos neurônios (células nervosas) que têm a função de levar uma informação para uma área que seja capaz de decodifica-las – no caso dos sentimentos, ao sistema límbico.
E, entre uma região ativada e outra, a forma com que isso ocorre consiste em como as emoções são geradas. “Esses agentes podem atingir células individuais, enquanto outros são transmitidos para estruturas do cérebro mais específicas para o controle de emoções”, explica a neurocirurgiã Raquel Zorzi. “Essa integração e interação generalizada permite ao cérebro ajustar a forma como você reage às coisas, e efetivamente alterar o seu humor e suas emoções”, complementa a profissional.
Autoconhecimento
Muitas vezes fazemos coisas que não são do nosso comportamento usual e, geralmente, isso ocorre sob os efeitos de alguma emoção alterada. E, apenas depois do acesso passar é que nos damos conta de que estávamos fora do nosso juízo perfeito. O problema é que nesse meio tempo o estrago já pode ter sido feito – daí a importância de conhecer seus próprios limites emocionais.
As emoções são expressões de fatores socioambientais que influenciam positivamente ou negativamente em nosso dia a dia. “O estado psicológico se manifesta e podemos fazer ‘leituras’, observações e interpretações do comportamento pelas expressões emocionais”, resume a professora de psicologia Berta Sheila.
Tendo isso em vista, faz-se importante compreender quais tipos de acontecimentos ativam o gatilho para determinadas emoções responsáveis por sensações desagradáveis, como sinais de ansiedade. Se souber utilizar as emoções a seu favor, elas podem funcionar como um guia para você perceber o que está certo e errado na sua vida e, assim, começar a mudar os hábitos. É a mesma lógica de quando se fica mal-humorado devido à fome. O que você faz para melhorar os ânimos? Come.
Esse foi apenas um exemplo banal, mas o pensamento também serve para situações mais complicadas do cotidiano. Imagine um cenário em que a pessoa fica nervosa só de pensar que o fim de semana acabou e terá que trabalhar no dia seguinte. Isso pode ser um sinal de que o trabalho não a está fazendo feliz – basta parar e interpretar os sentimentos.
Desse modo, a saída é procurar uma profissão que a faça ir voltar de um dia de serviço com a sensação de dever cumprido e almejando cada vez mais sucesso na carreira, seja ela qual for.
Essa filosofia pode ser aplicada em diferentes aspectos, como a relação interpessoal no ambiente de trabalho. Ou seja, se não tem afinidade por um colega de trabalho, você pode começar a refletir sobre a sua relação com essa pessoa, alterando um pouco a sua perspectiva para mudar a circunstância.
“Isso produz, nos aspectos pessoal, social e profissional, um ganho de autoestima que possibilita escolhas e decisões muito mais assertivas e não embasadas em reações a determinada emoção desconhecida”, finaliza Maura de Albanesi.
Saiba lidar
Ficar nervoso com situações adversas no trabalho, em tarefas diárias ou no convívio social, normalmente, só piora as coisas. Por isso é necessário saber se controlar e “ler” o momento de maneiras diferentes para, assim, buscar uma interpretação que deixe as emoções menos intensas. Fazendo isso, você poderá tirar proveito de um caso que inicialmente, com as emoções à flor da pele, parecia perdido. Veja como lidar com alguns dos sentimentos mais incômodos:
Vício bom?
As emoções negativas são capazes de trazer danos consideráveis se não souber lidar com elas. Mas, e quanto às positivas? Como tudo que é bom, em excesso, pode fazer mal; até os bons sentimentos são capazes de causar um transtorno, uma vez que há a possibilidade de o cérebro viciar em algo que dê prazer ou recompensa. E aqui não entram apenas as situações do tipo “chocolate me faz feliz, por isso vou comer mais para me trazer felicidade”. A neurocirurgiã Raquel Zorzi elucida que, “mesmo uma coisa que para você seja desagradável, como sentir dor, pode ter um efeito diferente em outra pessoa, e para ela ser prazeroso”.
A especialista explica que isso ocorre pois o modo como o cérebro processa as informações consiste em um sistema muito complexo. Além de que, nesses casos, fatores particulares da vida do indivíduo influenciam diretamente em suas expressões emotivas.
O órgão não “discrimina” os prazeres, ou seja, independentemente de como esse bem-estar surge (consumo de drogas, chocolate, sexo, receber o salário, etc.), a reação será a mesma. “No cérebro, o prazer tem uma assinatura distinta: a libe – ração do neurotransmissor dopamina no núcleo accumbens, um grupo de células nervosas que se encontram por baixo do córtex cerebral”, evidencia Raquel.
Texto: Giovane Rocha | Consultoria: Berta Sheila, coordenadora do curso de psicologia da Faculdade Anhanguera, em Niterói (RJ); Maura de Albanesi, psicoterapeuta e mestre em psicologia e religião pela PUC-SP, em São Paulo (SP); Raquel Zorzi, neurocirurgiã.
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