Construído em uma saliência natural do rio Riachuelo, La Boca foi o primeiro porto de Buenos Aires, por onde imigrantes europeus chegaram aos montes no final do século 19. Os precários cortiços construídos por eles, com madeira e metal recolhidos dos navios, acabaram se tornando marca registrada do bairro. Para alegrar o lugar, eles simplesmente utilizaram restos de tinta deixados no porto para pintar suas casas de diferentes cores. A maioria dos primeiros boquenses eram de origem italiana, em grande parte genoveses. O bairro disputa com San Telmo o título de “berço do tango”, embora a história insista em desmentir que haja um local onde nasceu o ritmo mais característico da Argentina. O tango teria surgido, na verdade, nos arrabaldes ou subúrbios, onde a cultura musical de imigrantes (não apenas italianos), o folclore e a milonga dos gaúchos encontravam seu caldeirão cultural ideal.
E mais uma vez, nasce o tango
O certo é que a Boca estava repleta de casas de reputação duvidosa nos primeiros anos da imigração. Como a maioria dos recém-chegados eram homens, faltavam mulheres na cidade, razão do sucesso dos bordéis. Diz-se que eram longas as filas nas portas e a solução das casas para não perder os clientes foi contratar músicos que os mantivessem entretidos na calçada. Tal foi o caso de um velho casarão vermelho na esquina da avenida Don Pedro de Mendoza com a rua Del Valle Iberlucea, onde hoje está o famoso Café La Perla. Pois culpe esses músicos pela novidade: eles tocavam a nova música do tango e os dançarinos, exclusivamente homens, praticavam seus primeiros passos. Assim, quando finalmente encontrassem uma boa jovem se relacionar, poderiam deixá-la sem ar com uma firula tangueira. Como todo conto saboroso tem seu pé na realidade, o fato é que o tango é uma dança em que o papel masculino é predominante. O bailarino é responsável por submeter e dominar quem dança com ele, e os movimentos rápidos de pernas chutando o ar remetem às lutas de faca entre as gangues portenhas de cem anos atrás.
Caminito
Essa rua é a razão principal para se cruzar a cidade até chegar a La Boca. O Caminito que seu pé pisará representa o que teria sido, no começo do século 20, uma rua de cortiços coloridos. Não é original: foi criado em 1959 pelo artista argentino Benito Quinquela Martín, entristecido com as demolições da típica forma de habitar do bairro em favor de construções mais modernas. Em sua representação dos cortiços, Quinquela utilizou materiais de outros, recém-demolidos. Batizou o local de Caminito, que quer dizer ruazinha, e o definiu como o “primeiro museu para pedestres a céu aberto do mundo”. Não há melhor chance de tirar fotos com um fundo colorido, comprar suvenires e artesanato. O Caminito também é onde se pode ver performances de bailarinos e cantores de tango na rua. É comum que insistam para que você pague e possa ter sua foto com eles.
Como chegar
A melhor dica é pegar um táxi para chegar e sair de La Boca. Também é possível chegar à Boca de ônibus: as linhas 29, 64 e 152 são as mais recomendadas. O bairro não está conectado pelo metrô. Não é seguro caminhar fora das áreas turísticas nem ir ao bairro de noite. Provavelmente, mesmo durante o dia, você vai encontrar um policial numa esquina qualquer avisando amavelmente aos turistas que dali para frente o risco é certo. Em La Boca, o que não está no seu mapa consta entre as áreas mais pobres da cidade, e o turista certo fazendo o caminho errado é forte candidato a engordar as estatísticas do crime na capital do país. Fique são, salvo e feliz perambulando apenas pelo colorido Caminito e suas imediações.
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Texto: Redação Alto Astral