Comer é uma necessidade humana, não tem como questionar. É através da alimentação que o corpo consegue os nutrientes indispensáveis para manter todo o organismo funcionando da maneira certa. Contudo, em algumas pessoas, essa necessidade acaba se transformando em um problema sério: a compulsão. Portanto, quando comer deixa de ser algo normal e passa a ser um vício, é hora de buscar ajuda para combater essa doença antes que outras complicações apareçam. Mas você sabe como a compulsão alimentar surge?
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Cérebro em cena
Antes de mais nada, é preciso ter em mente que a compulsão por comida tem a mesma raiz de vários outros tipos de vícios. Assim, uma pessoa que é viciada em jogos ou em álcool é afetada da mesma forma que aquela que não consegue se controlar diante dos alimentos. O fato é que o ser humano começa a fazer as coisas porque elas são recompensadoras – muito embora, com o tempo, elas se tornem excessivas e acabem se transformando em um hábito.
Muitas pessoas sofrem com a compulsão alimentar: elas comem não porque sentem fome, mas porque esse ato é mecânico. Mesmo sabendo das consequências negativas de consumir mais alimentos do que o necessário (como obesidade, colesterol alto ou depressão), o vício não permite que o comportamento seja alterado. E a explicação para esse condicionamento é científica: pense em alguém que seja alcoólatra. Na ausência de algum vício, o cérebro produz mais dopamina – um neurotransmissor ligado a sensação de prazer – quando ele bebe ou cheira o vinho. Nesse caso, a própria dopamina representa o prazer que a pessoa sente. Já nas situações de vício, os picos de dopamina surgem no momento em que o indivíduo vê a garrafa ou o copo de bebida alcoólica, ou seja, é uma resposta puramente à expectativa de algo.
É exatamente isso que acontece quando um indivíduo que sofre com a compulsão alimentar vê um prato de comida. Em vez de aproveitar a refeição e sentir prazer com o sabor dos alimentos, ele não consegue parar de comer e não desfruta do momento. Está apenas condicionado a ingerir mais e mais.
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Possíveis causas para o vício
Acredita-se que haja um conjunto de fatores hereditários, ambientais e socioculturais que levam o indivíduo a apresentar o transtorno de compulsão alimentar. “Pode vir associado em indivíduos com transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade, podendo também estar presente em pessoas com transtorno bipolar”, explica a endocrinologista Flávia Ribeiro Funes. De acordo com a profissional, também há indícios que afirmam que fatores ambientais são capazes de influenciar no surgimento e desenvolvimento da doença.
Além do fato do próprio ambiente possibilitar o aparecimento da compulsão alimentar, existem algumas doenças genéticas que causam esse distúrbio, pois há um defeito reconhecido no sistema de saciedade localizado no hipotálamo. Desse modo, a pessoa não consegue controlar sua fome e nem o impulso de comer. “Além disso, também existem fatores hereditários que estão relacionados a compulsão alimentar”, acrescenta a profissional.
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Alicerce fundamental
O apoio familiar e de amigos é sempre muito importante para tratar qualquer transtorno ou doença. E com o vício em comida não seria diferente, ainda mais porque, para as pessoas que não sofrem com esse tipo de compulsão, é muito difícil entender o motivo pelo qual o paciente ‘não come um pouco e para’, além do julgamento de ‘falta de força de vontade’. “Quando membros da família conseguem ter hábitos saudáveis, fica mais fácil para quem quer e precisa melhorar buscar alternativas para isso. O oposto também é verdadeiro. Ou seja, é bem mais difícil para alguém que se conscientizou que precisa melhorar e não tem onde apoiar-se na família”, afirma o médico com especialização em Acupuntura, Mauro Carbonar. Dessa forma, é necessário que haja diálogo e compreensão por parte dos envolvidos para que o distúrbio seja combatido com maior eficácia.
TEXTO Larissa Mortari
CONSULTORIA Flávia Ribeiro Funes, endocrinologista; Mauro Carbonar, médico com especialização em Acupuntura
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