28A escritora Anita Brito sabe muito bem o que é lidar com o preconceito. Mãe de Nicolas, hoje com 17 anos, ela ouviu, antes de ter o diagnóstico correto, que seu filho era uma criança “mimada”, “psicótica”, “retardada”, entre outros termos. Mesmo desconfiando após os primeiros sinais de autismo que o filho apresentou, só a notícia confirmando que a aliviou. “Eu dizia que ele era autista, mas os médicos não conseguiam encontrar um diagnóstico para ele. Tinha medo de ele ter uma doença degenerativa, que o tirasse de mim. Saber que ele era autista me trouxe forças para lutar por sua recuperação”, contou.
Segundo o neuropediatra Clay Brites, “é fundamental que a sociedade se conscientize: o impacto do autismo no desenvolvimento e no potencial futuro da criança é imenso! Deve-se, portanto, aumentar o conhecimento e a atualização dos profissionais da rede pública primária e, especialmente, dos pediatras”. Assim, procurar ajuda logo que desconfia dos primeiros sinais de autismo, ajuda a criança a se desenvolver e ter uma vida independente.
Primeiros sinais de autismo: como é feito o diagnóstico?
“Deve ser realizado até os 3 anos de vida e deve envolver, em primeiro lugar, a suspeita de que o desenvolvimento da linguagem e do comportamento social estão inadequados ou atrasados”, explica Brites. Ele ainda reforça que isso não depende de exames, mas sim da observação do comportamento da criança em sociedade e sua relação com a rotina no dia a dia.
Comportamento do autista
Alguns comportamentos são recorrentes nas crianças autistas, entre eles dificuldade de interação social, falta de interesse e emoções, ações repetitivas, etc. No caso de Nicolas, assim que sua mãe soube do diagnóstico, ela se recusou a tratar com remédios, mas sabe que cada caso é um caso.
“Eu sabia que era possível tratar com terapias. Consegui uma fono e uma psicóloga para ele e todo o restante do ‘tratamento’ sempre foi feito por mim em casa de acordo com o que lia. Nunca fazia nada que fosse invasivo, mas na área comportamental fazia, e ainda faço, todo o possível para fazer com que ele desenvolva cada vez mais”, revela Anita.
Importância da socialização
O neuropediatra aconselha incentivar a independência do autista sempre que possível, criando situações que ele possa se socializar. A escola, por exemplo, é um dos lugares em que o paciente pode aprender a conviver em sociedade, mas Brites afirma que é necessário “conhecer as manias e o nível intelectual do autista” pois, sem isso, não é possível elaborar estratégias de aprendizado.
No caso de Nicolas, ele frequenta aulas e ganha carinho dos colegas, que entendem a situação e fazem de tudo para que ele se sinta confortável. “Houve uma situação em que a professora levou bexigas para a sala, e ele morre de medo. Nicolas quase teve uma crise, mas seu colega de classe o acalmou e o levou para a sala da coordenadora, bem longe dos balões e disse que tudo ficaria bem”, contou Anita, que se emociona ao ver a evolução do filho: “ele tem surpreendido alguns professores com lições feitas sem adaptação. É um grande avanço e isso mostra que ele é capaz de aprender, com o tempo, coisas que as pessoas diziam que ele jamais seria capaz”.
Não se amedronte
“O ‘luto’ é necessário quando temos o diagnóstico, mas não pode ser maior que a luta. Chore e questione-se, mas lembre-se que as respostas só virão quando você estiver pensando claramente. Você deve, imediatamente, procurar uma única resposta: o que posso fazer hoje para fazer meu filho ser feliz? E essa é uma pergunta que deve ser respondida todos os dias de formas diferentes, pois nós só o temos o hoje. Não procure um ideal de filho, pois você já tem o filho ideal”, finaliza Anita.
Texto: Daniela Andrioli
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