Imagine alguém que dedica horas ao longo do dia para examinar o que vai comer, lê minuciosamente os rótulos daquilo que compra, cozinha e come sozinho, pois não confia em restaurantes, e ainda mastiga dezenas de vezes antes de engolir. A vida dessa pessoa gira em torno da comida: não rejeita apenas os alimentos que engordam ou têm toxinas, mas também aqueles cultivados com adubos e herbicidas, que possuem substâncias artificiais. Abominam qualquer coisa que não pareça ser natural, pura, benéfica ou controlada. Parece haver algo de errado, não? Pois essa é a vida de alguém que sofre de ortorexia.
Mais do que um simples problema
A ortorexia nervosa é uma doença ainda não reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), nem figura nos manuais de psiquiatria. O transtorno é ainda pouco conhecido, mas já preocupante. “O discurso do indivíduo é de que sua alimentação deve seguir normas de ingerir itens descritos como puros, que tragam uma melhoria na saúde do corpo, reforça a psiquiatra e terapeuta de família Liliane Kijner Kern.
Relação com a anorexia
Estudiosos sobre o tema detectam que muitos ortoréxicos são ex-anoréxicos que, após se recuperarem, buscam uma dieta supostamente livre de qualquer dano. Mas ao contrário da anorexia – caracterizada pela distorção da imagem corporal e pavor com o ganho de peso –, na ortorexia o foco não é a balança ou a forma corporal, e sim o conteúdo dos alimentos, criando uma obsessão com rótulos e uma rejeição de qualquer item fruto de processo químico ou industrial.
A fronteira do exagero
Mas como diferenciar uma simples preocupação moderada com a dieta, da enfermidade? O hábito se transforma em um transtorno alimentar quando a persistente preocupação conduz o indivíduo, ao ponto de atingir diretamente sua vida e causar sofrimento. O perfil do ortoréxico pode variar desde aquele que possui cuidados extras com seu corpo, como: os vegetarianos; os atletas; os simpatizantes a certas modas alimentares, religiões ou crenças filosóficas, que pregam restrições alimentares.
Desvantagens
A busca desenfreada por alimentos considerados bons pode ter o efeito contrário e levar à alimentação desequilibrada. Desnutrição, anemia, deficiências ou excessos de vitaminas, minerais e outros nutrientes estão entre as consequências, principalmente quando a dieta se torna mais severa e exclui alimentos fundamentais para o funcionamento do organismo.
A solução
A combinação ideal é o tratamento psicológico e nutricional para reequilibrar a alimentação, desestimular práticas excessivas dos comportamentos alimentares e prevenir as recaídas. Para tratar os transtornos alimentares em geral, a abordagem multiprofissional especializada é a melhor pedida: psiquiatra, endocrinologista, nutricionista e psicólogo são alguns dos profissionais envolvidos no tratamento.
FAÇA O TESTE
Repare em alguns sinais e responda sim ou não para cada afirmação.
- Você só se permite alimentos saudáveis?
- Examina excessivamente cada pormenor do conteúdo dos alimentos?
- Não consegue comer uma refeição preparada por outra pessoa?
- Costuma analisar e comentar a maneira como os outros preparam a comida?
- Tem o hábito de verificar os rótulos de todos os alimentos?
- Percebe que pensa muitas vezes em conteúdo nutricional ao longo do dia?
- Fica preocupado após ingerir alimentos que possam não ser saudáveis?
- Perdeu muito peso há pouco tempo sem seguir conscientemente alguma dieta?
- Evita encontros com amigos ou familiares que representem um risco às tentações “impuras” contidas nos alimentos?
Se você respondeu sim para a maioria das respostas, consulte seu médico e peça orientação sobre onde encontrar ajuda especializada.
Consultoria Liliane Kijner Kern, terapeuta de família
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