Apesar do termo esclerosado ser popularmente usado para definir quem sofre com o declínio das capacidades cognitivas e que está fora de si, o real significado pouco tem a ver com isso. Aliás, tornou-se uma expressão pejorativa daquilo que deveria remeter ao indivíduo com o diagnóstico de algum tipo de esclerose – uma gama de doenças que não têm relação entre si. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Ibope, em 2010, foi avaliado que cerca de 70% da população brasileira não sabe realmente o que é esclerose, associando um dos tipos, a esclerose múltipla, (EM) ao envelhecimento. Além disso, é comum a confusão entre o problema e alguma forma de demência. “Esclerose é um termo médico utilizado para definir aumento de tecido conjuntivo e endurecimento do órgão. Já as demências se manifestam por declínio cognitivo, levando a alterações de memória e comportamentais.”, diferencia o neurologista Drusus Perez.
Hora de tomar nota
Confira alguns tópicos sobre as características gerais daquilo que entende-se na literatura médica por esclerose. Para saber mais sobre os principais tipos do problema, continue a leitura na página 12, ok?
- O que é: o termo em si significa o endurecimento de algum órgão e vem do grego “skleros”, que significa duro. Entre as causas gerais desse problema está a idade avançada, inflamações e doenças autoimunes, que podem levar a perda de elasticidade do tecido e causar alguma forma de esclerose.
- Principais formas: entre as mais conhecidas estão a esclerose múltipla (EM), a esclerose lateral amiotrófica (ELA), a esclerose sistêmica e a esclerose tuberosa, além da arteriosclerose.
- Grupo de risco: se comparado às causas de demência, as formas de esclerose costumam acometer indivíduos mais jovens – e a maioria não tem ligação ao envelhecimento. No caso da esclerose múltipla, por exemplo, é mais comum na faixa dos 20 a 40 anos e acomete mais mulheres que homens.
- Diagnóstico: como as formas de esclerose variam entre si, a avaliação médica é diferente. O risco é, em alguns casos, como na EM e na ELA, em que os pacientes levam cerca de 8 meses entre o início dos sintomas e o diagnóstico, perder tempo no tratamento, fator importante para retardar a doença. “Atualmente, as escleroses ainda não possuem cura, apenas medidas e medicações de controle, mas há estudos avançando nesse sentido”, destaca a médica da família Cristiane Gussi.
Afetam a mente?
As formas de esclerose não evoluem para a demência ou tem sintomas de incapacidade intelectual. Apenas alguns casos de esclerose múltipla (EM) podem caminhar para grandes lesões e acarretar no declínio das faculdades mentais, além de ocorrências isoladas de esclerose lateral amiotrófica (ELA), em que poucos pacientes possuem sintoma de demência associada. Então, porque o engano entre doenças tão diferentes? “Talvez a confusão mais comum ocorra com a expressão popular ‘ficar esclerosado’, que se refere às pessoas, geralmente mais idosas, que começam a apresentar progressivamente perda de memória e capacidade de se cuidar sozinhos”, sinaliza a neurologista Vanessa Muller. Para ela, essa ideia vem do termo aterosclerose, doença das artérias comum em idosos e que não contempla a EM ou ELA, mas sim a causa mais comum de demência adquirida, através de lesões cerebrais em decorrência de derrames. “Essas alterações vão se somando e estão associadas a uma história de declínio da competência cognitiva”, destaca.
Para não confundir
Além do termo esclerosado ser usado erroneamente para designar pessoas com demência, outros também podem ser mal-interpretados. Confira:
- Arteriosclerose: é uma forma de referir-se as espessamentos das artérias, em que as paredes das mesmas ficam endurecidas, perdendo a elasticidade. “Causada geralmente por hipertensão arterial ou pela idade avançada”, indica a neurologista Vanessa.
- Aterosclerose: essa grafia, sem o “r” e o “i” é usada para designar uma forma de arteriosclerose em que há o endurecimento da parede arterial, porém causada pela presença de placas de ateroma, ou seja, placas de gorduras.
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