Comum na infância e adolescência, a dislexia é um transtorno de aprendizagem que faz com que a pessoa tenha dificuldade em reconhecer, ler e escrever as palavras. Apesar de ainda não ter cura, o transtorno tem tratamento! Quem fala mais sobre o assunto é Karina Weinmann, neuropediatra e cofundadora da NeuroKinder, clínica especializada em desenvolvimento infantil.
1- Qual a causa da dislexia?
“Aprender a ler não é um processo natural como é o da linguagem oral, que se desenvolve por meio da interação social com os adultos ou outras crianças. É preciso ter uma boa consciência fonológica, ou seja, o conhecimento consciente de que a linguagem é formada por palavras, as palavras por sílabas, as sílabas por fonemas e que os caracteres do alfabeto representam esses fonemas. A hipótese mais aceita hoje é que a dislexia é causada por um déficit nesse processamento fonológico devido a uma disrupção no sistema neurológico cerebral. Este déficit dificulta a discriminação e o processamento dos sons da linguagem e a consciência fonológica”.
2- A dislexia é passada dos pais para os filhos?
“Os estudos realizados ao longo dos anos mostraram que há um fator genético importante na dislexia. Uma mutação genética rompe alguns circuitos cerebrais envolvidos no processo de leitura e escrita, levando à dislexia. A dislexia costuma aparecer em várias pessoas de uma mesma família que compartilham essa mutação genética. Assim, podemos dizer que a doença tem carácter genético e hereditário”.
3- Só é possível diagnosticar uma criança quando ela entra na fase da alfabetização?
“Os especialistas afirmam que existem sinais que podem indicar dificuldades futuras alterações. Não é preciso correr para o consultório médico, mas é importante que os pais estejam atentos e conscientes de que se a criança for diagnosticada tardiamente, os anos perdidos não podem ser recuperados. Tudo é uma questão de bom senso, mas a intervenção precoce é fundamental para ajudar as crianças com dislexia”.
4- Quais são os sinais precoces?
“O atraso na aquisição da fala é o primeiro sinal de alerta. Essa dificuldade pode indicar várias outras condições, como também pode ser um indício de dislexia no futuro. A dificuldade de pronunciar palavras mais complexas, assim como a omissão ou a inversão de sons (pipocas − popicas), também indicam algum déficit de linguagem. Crianças que apresentam dificuldades na aprendizagem da leitura já nos primeiros anos escolares, como falta de consciência silábica e fonêmica, dificuldade de identificar as letras e os sons correspondentes e que têm uma linguagem oral e vocabulário empobrecidos devem ser avaliadas precocemente”.
5- Existe algum exame que comprove o diagnóstico?
“Atualmente não existe nenhum marcador biológico que confirme o diagnóstico da dislexia, portanto nenhum exame, nem de análises clínicas, nem de imagem, é capaz de comprovar o diagnóstico. Em geral, o neuropediatra é o profissional mais indicado para diagnosticar e tratar a dislexia, juntamente com uma equipe interdisciplinar. O médico irá excluir outras causas orgânicas, irá investigar o histórico familiar, histórico clínico e todas as demais informações. Participam ainda da avaliação o fonoaudiólogo, psicopedagogo e neuropsicólogo que irão aplicar uma série de testes para ajudar na confirmação do diagnóstico do médico”.
6- Existe alguma relação com problemas visuais?
“Até o momento nenhum estudo comprovou que a dislexia é causada por um problema de visão. Os erros de inversão (ver as letras ao contrário preto e Saúde TEXTO Daniela Andrioli branco), por exemplo, são erros de origem fonológica e não de origem visual.”
7- Quem tem dislexia também tem Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade?
“Nem todo mundo que tem dislexia tem TDAH. Mas o TDAH é a comorbidade mais comum associada à dislexia. Entre as doenças que se desenvolvem conjuntamente com a dislexia podemos encontrar a disgrafia, a discalculia, transtornos relacionados à coordenação motora, entre outros.”
8- Como é feito o tratamento?
“O tratamento para a dislexia deve ser feito por uma equipe interdisciplinar, composta pelo neuropediatra, professor, psicopedagogo, psicólogo e fonoaudiólogo. A participação da família é fundamental para o sucesso da terapia. Os profissionais atuam conjuntamente e trocam informações sobre a evolução do quadro. O tratamento exige dedicação de todos os envolvidos e é de longa duração.”
LEIA TAMBÉM
- Crianças agressivas: como impor limites?
- Pneumonia em crianças: saiba quais são as formas de tratamento e como identificar
- Como fazer yoga em casa: 5 posições para iniciantes!