As duas especialidades da medicina têm como foco o sistema nervoso humano, mas atuam de formas distintas. Para elucidar a principal diferença entre os profissionais, o professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Bahia (UFBA), William Dunningham, compara a cabeça a um computador, em que o psiquiatra trabalha a lógica do sistema (software), enquanto o neurologista acompanha “falhas da mecânica”, ou seja, a parte física (hardware).
Gilberto Katayama, médico especialista em Medicina do Trabalho complementa: “a diferença é que um atua no nível mental cognitivo e outro nas doenças do sistema nervoso, que afetam o corpo físico”. Porém, quando é indicado recorrer a esses profissionais? Confira!
Desfazendo o nó (da cabeça)
Para exercer ambas as especialidades, é necessário o diploma de medicina, entretanto a formação de cada um os leva a focar em diferentes aspectos de uma doença. Willian exemplifica: “o transtorno emocional é da alçada do psiquiatra, porém esse paciente pode padecer, ao mesmo tempo, de uma epilepsia complexa, que é da competência do neurologista”. Ou seja, tanto o psiquiatra quanto o neurologista podem auxiliar no diagnóstico e tratamento de doenças emocionais, mas com um enfoque diferente.
Lado físico
O neurologista é recomendado em casos de dores de cabeça e problemas sem origem definida que levem a dificuldade de caminhar ou movimentar-se, tremores, convulsões, transtornos da memória e raciocínio. “As manifestações de doenças neurológicas são claramente físicas: dor de cabeça, paralisias, perda de força muscular, tontura, dificuldades repentinas na fala e na visão, etc.
Quando não encontra causas físicas, o neurologista encaminha para o psiquiatra, pois pode se tratar de um transtorno de somatização, por exemplo,”, avalia Fábio Martins Fonseca, psiquiatra clínico e psicoterapeuta. Por somatização entende-se doenças de origem psicológica, aquelas em que as emoções alteram o estado físico.
Lado emocional
O psiquiatra, por exemplo, é o médico indicado para diagnosticar e tratar doenças emocionais e comportamentais. Drusus Perez, professor de pós-graduação em Neurologia dá exemplos: “deve ser procurado para avaliação de doenças mais comuns na psiquiatria como depressão, ansiedade e dependência química. Outras doenças afetivas com alterações comportamentais e que devem ser abordadas pelo psiquiatra são esquizofrenia, bulimia, transtorno obsessivo compulsivo ou bipolar”.
Geralmente esses transtornos têm gravidade o suficiente para impactar a vida social da pessoa, levando a perda de produtividade e sofrimento. Por isso, é importante dizer que, principalmente nesses casos, o profissional pode receitar medicamentos.
A psiquiatra Julieta Mejia Guevara explica: “além de ter formação psicopatológica, o psiquiatra sabe diagnosticar o que é fundamental para o tratamento e iniciar com segurança. Por exemplo: qual o antidepressivo adequado quando o profissional suspeita que a depressão em curso tem origem bipolar”.
Duas cabeças pensam melhor do que uma!
“Existe uma interseção entre as especialidades e os sintomas das doenças frequentemente se sobrepõem. Um bom profissional será capaz de diagnosticar corretamente o problema”, aponta Drusus. Ou seja, o quadro de doenças emocionais podem ser manifestar de diversas formas, exigindo colaboração entre os especialistas.
No entanto, isso vai depender de cada caso: “se o problema emocional estiver associado a uma doença neurológica e for constatado simultaneamente que o problema emocional tem fundo psiquiátrico, pode ter acompanhamento de ambos os profissionais. Mas é importante lembrar que cada um cuidará da sua área de especialização”, destaca Gilberto.
Consultoria: Drusus Perez, professor do Curso de Pós-graduação em Neurologia da Faculdade Instituto de Pesquisa e Ensino Médico (IPEMED) de Ciências Médicas; Fábio Martins Fonseca, psiquiatra clínico e psicoterapeuta; Julieta Mejia Guevara, psiquiatra com título de especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP); William Dunningham, sócio titular da Associação Brasileira Psiquiatria (ABP) e professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Bahia (UFBA); Gilberto Katayama, médico especialista em Medicina do Trabalho e instrutor de treinamentos do Núcleo Ser.
Texto: Redação Alto Astral
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