Samara Felippo já relatou em um vídeo em sua página no Instagram a dificuldade da filha mais velha, Alicia, de 8 anos, em aceitar seu cabelo naturalmente crespo. A atriz teve problemas para lidar com a cabeleira das duas filhas por ela mesma ter os cabelos bem lisos e não conhecer muito sobre o novo universo. As dúvidas das pequenas e as questões sobre representatividade negra, empoderamento infantil e feminismo inspiraram Samara a lançar um canal no YouTube em conjunto com a filha para falar sobre o assunto.
Assista ao vídeo de Alicia:
Em entrevista ao UOL, ela contou um pouco mais sobre a nova experiência. “Realmente não sou negra, não tenho cachos, mas tenho filhas e luto por elas. E vou fazer isso até que elas possam assumir seus lugares de fala na sociedade. Podem criticar (o fato de eu ser branca), mas vou falar e massificar o quanto eu puder essa questão que se faz necessária. Enquanto puder falar por elas, falarei”, explicou.
O mundo cacheado das filhas
Samara Felippo comentou que passou a dar mais atenção ao tema quando Alicia deu sinais de rejeição ao seu cabelo e a atriz descobriu que precisava passar confiança para filha e dedicar alguns cuidados especiais para os cachinhos.
“Não tinha parado para pensar nos cachos, até que vi que existia xampu específico, cronograma capilar, óleos que podem e que não podem ser usados. Achava que entendia tudo, mas somos tão arraigados com racismo, machismo e todos esses preconceitos, que cometemos erros sem perceber. Como manter o cabelo amarrado para abaixar o volume ou pentear e fazer comentários do tipo ‘como dá trabalho’. A criança cresce pensando que o cabelo dela é um fardo”, relatou a atriz.
A filha, mesmo nova, já sente falta da representatividade na escola, nos brinquedos e na mídia. “Uma criança negra crescer com um monte de Barbie loira ao redor é doído. Na sala dela, só tem um menino negro, mas ela não se vê ali. Um desenho ter um personagem negro devia ser natural e não provocar comentários do tipo: ‘nossa, tem até um negro’. A Alícia ama quando se vê representada na MC Sofia, na Karol Conka, quando ouve ‘seja você sua heroína’. A identificação é imediata”, revelou Samara.
O empoderamento feminino também já é uma preocupação da atriz. Ela contou que os filmes de princesas não são proibidos na casa, mas há um cuidado sobre como as meninas vão absorver esse tipo de conteúdo. “Você já vive em uma sociedade que diz que a mulher é ‘obrigada’ a arrumar um marido, casar e ter filhos. Você cresce assistindo isso e, quando chega na fase adulta, vê que não é assim. É complicado lidar com essa frustração. Não é só casar e ter filhos, você pode não fazer nada disso. E tudo bem! Quero que minhas filhas estejam à vontade com os seus valores e suas vontades”.
O envolvimento com a causa
A atriz ainda contou que comprometimento com representatividade negra, empoderamento infantil e feminismo vieram na marra junto com os questionamentos das filhas. “Uma mãe branca com uma filha branca jamais vai parar para escutar a luta negra e mostrar para filha que um cabelo black, cheio, crespo, encaracolado não é estranho, é apenas diferente. As mães brancas com filhos brancos também precisam dar referência e mostrar que a sociedade [brasileira] é miscigenada”, ressalta.
Sobre os planos para o canal, Samara Felippo contou que pretende entrevistar personalidades negras e que a atriz Sheron Menezes pode ser a primeira convidada. “Não tenho lugar de fala algum para falar sobre cabelos crespos ou sobre ser negra, exceto por ter filhas de um pai negro e saber que um dia elas podem sofrer racismo. Se um dia isso ocorrer, quero que elas estejam de cabeça erguida, empoderadas. Tenham poder sobre si e sua identidade”. Samara ainda ressaltou que não teme críticas sobre seu posicionamento e que quer ser uma mãe capaz de dar para as filhas autonomia e independência.
Veja fotos de Samara Felippo e suas cacheadinhas:
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