A folha de coca, planta originária da América do Sul, é consumida há mais de 5 mil anos pelos povos andinos como estimulante, principalmente para suportar os efeitos do ar rarefeito em elevadas altitudes. Seu alcaloide, a cocaína, foi isolado por volta de 1860 e, poucos anos depois, se popularizou por meio de uma bebida alcoólica batizada com o nome de seu criador, que continha a substância, o vinho Mariani – inclusive, um de seus maiores apreciadores foi o Papa Leão XIII. A Coca-Cola também usou, até 1903, a cocaína como um de seus ingredientes básicos.
Foi nesse cenário que a substância passou a ser encarada como medicamento e encontrada facilmente nas prateleiras das farmácias. A companhia americana Parke Davis vendia a cocaína em forma de pó, cigarros e líquido injetável, sob o lema de “substituir a comida; tornar os covardes corajosos, os silenciosos eloquentes e os sofredores insensíveis à dor”. Freud chegou, até mesmo, a fazer parecer técnico da qualidade da substância para o laboratório.
Graças ao seu entusiasmo com a substância, parte do lote comprado para estudos em laboratório foi usado em testes para anestesias locais. Um colega de laboratório de Freud aproveitou-se desse lote e descobriu o seu uso como anestésico ocular, que revolucionou o campo na época para as cirurgias de catarata.
“Nessa época, a cocaína era uma droga farmacêutica sem nenhum dos estigmas atuais, e não se diferenciava em nada dos remédios para dor de cabeça tomados hoje em dia. Porém, tratava-se de uma droga experimental, cujo conjunto de efeitos ainda era desconhecido, por isso era utilizada como teste”, explica o estudante de psicologia e pesquisador da psicanálise João Vitor Wrobleski.
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Texto e entrevista: Augusto Biason/Colaborador – Edição: Giovane Rocha/Colaborador
Consultoria: João Vitor Wrobleski, estudante de psicologia, pesquisador da psicanálise e dono do canal Filosofia da Psique no YouTube