A dúvida se existe vida após a morte deve ser uma das que mais aflige o ser humano. Não saber para onde vamos ou o que acontece depois que morremos é angustiante.
É incômodo pensar que tudo a que nos dedicamos durante a vida, como a família, os amigos e as conquistas materiais, terão fim um dia. Mas só uma coisa é certa nessa nossa existência: a morte. E a cada dia que passa ela está mais próxima.
O mais perto que a ciência chegou de saber o que há do outro lado são as experiências de quase morte (EQM). São relatos de pacientes que estiveram na fronteira entre a vida e a morte, mas conseguiram voltar. Já existem pesquisas sobre esses casos e os cientistas tentam desvendar esse enigma para saber: o que existe quando acaba a vida?
Experiências de quase morte
Uma pesquisa feita durante quatro anos por cientistas da Universidade de Southampton, na Inglaterra, analisou casos de 2.060 pessoas que sofreram paradas cardíacas em 15 hospitais da Grã-Bretanha, Estados Unidos e Áustria. A pesquisa ganhou o nome de “Aware”, que significa “consciência durante a ressuscitação”, e foi divulgada em 2014.
O número de sobreviventes aos ataques cardíacos foi de apenas 330 pessoas. Desse grupo, 140 estavam em condições de dar entrevista e somente 55 pessoas relataram ter tido alguma percepção ou lembrança do período em que foram considerados mortos. Porém, somente duas delas puderam descrever com precisão suas experiências de quase morte.
Uma luz no fim do túnel…
Um desses casos é de um homem de 57 anos, que contou o que viu enquanto esteve “quase morto”. O paciente diz ter assistido a tudo o que aconteceu na sala enquanto os médicos tentavam reanimá-lo. O homem conseguiu descrever as pessoas, os sons e tudo o que os médicos fizeram enquanto esteve desacordado. E a equipe médica confirmou cada detalhe.
Os cientistas estimam que o paciente tenha ficado consciente por três minutos no período entre a parada cardíaca e a reanimação – segundo estudos, o tempo normal de atividade residual no cérebro é de 20 a 30 segundos apenas, após uma parada cardíaca.
Apesar de não se lembrar dos detalhes, a maioria dos entrevistados descreveu sensações e imagens semelhantes. Cerca de 20% sentiram uma sensação de paz e 27% tiveram a impressão que o tempo desacelerou ou acelerou. Alguns relataram ter visto uma luz brilhante, outros sentiram medo, além de sensação de afogamento e de ser sugado para dentro da água, e outras 13% disseram que os sentidos ficaram mais aguçados. Além do mais, 8% declararam terem ouvido uma voz ou sentido uma presença mística, e 3% disseram ter visto espíritos de pessoas mortas ou imagens religiosas. Nenhum dos pacientes relatou experiências ligadas ao futuro.
…sem resposta
Aparentemente, os pacientes tiveram mais tempo de consciência durante a morte clínica, por isso suas memórias podem ter sido afetadas pelo processo de reanimação ou pelos sedativos usados. Os cientistas ainda apontaram que a pesquisa teve algumas limitações, como a comprovação do que os pacientes relataram e o que realmente aconteceu durante a parada cardíaca. Outro agravante foi que poucos pacientes tinham memórias detalhadas sobre o momento da morte clínica, impedindo que houvesse uma análise mais profunda sobre os casos.
Entenda a EQM
Somente a partir de 1950, com a invenção de aparelhos desfibriladores – capazes de reverter paradas cardiorrespiratórias – que a humanidade começou a escapar da morte, depois de vê-la tão de perto. Foi aí que começaram as experiências e os relatos de sobreviventes.
Por causa das semelhanças dos depoimentos e o detalhamento com que são contados pelos pacientes, o psiquiatra e psicólogo norte-americano Raymond Moody foi quem criou o termo “experiência de quase morte” (EQM). Ele escreveu um livro que virou best seller, chamado A vida depois da vida, em 1975.
Em 1980, outro psicólogo norte-americano, Kenneth Ring, listou cinco fases que ocorrem durante uma EQM, não necessariamente com uma ordem definitiva: a sensação de paz, o túnel, a luz, o abandono do corpo e a fronteira (um obstáculo qualquer, como um muro ou rio, que simboliza a passagem definitiva).
Mas até hoje, pesquisa mais importante feita sobre o assunto é a do cardiologista holandês Pim van Lommel. Publicada em 2001 na revista médica britânica The Lancet, a pesquisa acompanhou 344 pacientes, durante 13 anos, em vários hospitais da Holanda, que foram reanimados após paradas cardíacas e relataram episódios de EQM. Metade dos pacientes que tiveram lembranças sólidas do período de inconsciência morreu em um mês. Esse dado confirma que, quanto mais a pessoa esteve perto da morte, mais danos cerebrais ela sofreu.
LEIA TAMBÉM
- As EQM apresentam um novo olhar sobre a vida após a morte. Conheça!
- Você sabe o que acontece depois da morte? Saiba mais!
- Descrição de cenas vistas em experiências de quase morte. Saiba mais!
Texto: Júlia Prado Edição: Nathália Piccoli