Nesta segunda (21.11), o Papa Francisco permitiu que o aborto seja absolvido pelos padres. Antes, apenas bispos e confessadores especiais tinham esse poder.
Na verdade, isso é uma prerrogativa de uma decisão já tomada durante o Ano Sagrado, que durou de 8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016. Veja detalhes sobre o assunto, a seguir.
Ano Sagrado
À princípio, seguindo o calendário católico, o pontífice havia concedido a liberação de absolvição do aborto por padres no Ano Sagrado, que tem um significado especial por ser um tempo favorável para contemplar a misericórdia divina que ultrapassa qualquer limite humano.
Coração arrependido
Foram muitas as cartas de católicas enviadas ao Papa que pediam a mudança. No portal Católicas foi postada uma das cartas enviadas em 2014, um pouco antes da primeira decisão. Veja na íntegra no final dessa matéria!
Foi pensando nessas mulheres que o Papa Francisco deixou claro na Carta Apostólica que “não há pecado que a misericórdia de Deus não possa limpar quando encontra um coração arrependido e em busca de reconciliação”. As informações são do portal IstoÉ.
Grave pecado
Mesmo com a permissão, ele não deixou as advertências de lado considerando a visão e o entendimento históricos da igreja católica sobre o assunto. “Eu quero ressaltar quão firmemente quanto possa que o aborto é um pecado grave, já que coloca fim a uma vida inocente.”
Carta para Papa Francisco sobre mulheres e aborto
Enviada em 2014, antes da reflexão e decisão de Papa Francisco a respeito da liberação.
Por Rede Latino-americana de Católicas pelo Direito de Decidir*
16 de janeiro de 2014
Estimado Papa Francisco,
Com uma fraternal saudação em Cristo, nos dirigimos ao senhor. A Rede Latino-americana de Católicas pelo Direito de Decidir é um movimento autónomo de pessoas católicas e feministas comprometidas com a busca da justiça social na América Latina. Defendemos e promovemos os direitos humanos das mulheres em 12 países da região: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile, Equador, El Salvador, México, Nicarágua, Paraguai, Peru e Espanha como país associado.
Como todo o povo católico, vivemos a expectativa dos bons auspícios de seu pontificado que se anunciou como uma mudança positiva na Igreja. Apostamos na esperança dessa mudança de forma que inclua as mulheres, o respeito aos Estados laicos, à diversidade e, sobretudo o compromisso com os desafios em relação à vida real e concreta das pessoas, especialmente as mais pobres e excluídas. Reconhecemos que transformações começaram e são importantes e significativas para a Igreja. No entanto, como mulheres solidárias com as mulheres de nosso continente, comprometidas com a luta pela justiça social, não podemos silenciar frente à sua última declaração sobre quem seriam os seres humanos ‘descartáveis’ no mundo atual.
É verdade que se poderia evitar muitas interrupções de gravidez se todas as mulheres do continente tivessem educação sexual para decidir e acesso a contraceptivos modernos para regular a fecundidade. Poderiam assim, exercer o direito de engravidar no momento mais oportuno, possibilitando que a maternidade seja vivida como uma opção prazerosa e não como simples destino biológico ou uma imposição cultural. Porém, o senhor sabe bem que a desigualdade deste continente está longe de ser superada e que as mulheres mais pobres estão expostas à maternidades obrigadas em contextos de muita violência, com todo o custo que isso implica para elas e para o conjunto de nossas comunidades.
Nós, como católicas e como a maioria das pessoas de diferentes credos e convicções, assim como muitas pessoas ateias, damos valor à vida em gestação; mas esse valor não pode ser maior do que aquele atribuído às mulheres. Sabemos que a decisão pela interrupção de uma gestação é tomada em consciência, motivada por diversos fatores, entre os quais o bem-estar dos outros, sobretudo dos próprios filhos.
Existe uma alta taxa de mulheres que morrem vítimas de violência. Os números são alarmantes em todo o mundo, em particular na nossa América Latina. Mulheres que são mães, jovens, solteiras, casadas, namoradas, filhas, sobrinhas, amigas e que geralmente são assassinadas pelos próprios companheiros ou pessoas que dizem amá-las. Nos dói o silêncio da Igreja que não levanta sua voz para denunciar essa violência e não exige justiça para essas mulheres vulneráveis e excluídas.
Necessitamos de uma voz de indignação evangélica do Vaticano e do senhor como seu máximo representante. Sonhamos com uma Igreja inclusiva que compreenda, ampare e conforte as pessoas nestas situações. Não queremos escutar apenas condenações sobre temas que estão em debate tanto na Igreja como na sociedade. Seu discurso, suas atitudes e feitos, Papa Francisco, são inovadores e transgressores, e têm gerado um grande consenso entre aqueles que são comprometidos com a justiça social e trabalham por um mundo melhor, uma Igreja melhor, uma sociedade melhor em que vivamos todos e todas com liberdade, respeito, em congruência com o que o senhor vem dizendo.
Nos preocupa que em um momento em que o mundo necessita de unidade e consenso, se levantem estes temas desta maneira, pois podem gerar divisões, contraposições, discriminação, estigma e incompreensão. Do senhor esperamos misericórdia, compaixão e justiça, toda justiça necessária para que este mundo seja melhor.
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