Pesquisador da Universidade de Maastricht, na Holanda, o neuropsicólogo Erik Matser conduziu um estudo no qual a ideia inicial era a investigação dos efeitos das pancadas no cérebro de boxeadores. Os primeiros resultados mostraram que, apesar dos prejuízos, a capacidade de memorização e de captação de estímulos visuais dos atletas era superior a das pessoas em geral.
Em uma segunda fase da análise, o especialista acompanhou jogadores de futebol holandeses durante dez anos. A conclusão exposta foi a de que os atletas convocados para a seleção nacional demonstraram desempenhos mentais realmente melhores comparados aos demais colegas.
E, baseado nesses dados, Erik elencou as características cerebrais presentes nos atletas que se destacaram:
1. Agilidade no processamento de estímulos visuais (como o posicionamento dos adversários no campo);
2. Capacidade de antecipação (a maneira com a qual o atleta se destaca ao pensar e agir mais rápido que os demais em um cabeceio, por exemplo);
3. Memória (capaz de criar um repertório de reações praticamente naturais);
4. Combinação de todos esses fatores, que estão interligados (perceber a situação, selecionar a memória apropriada e tomar a decisão certa antes dos outros).
“As funções executivas estão especialmente ligadas aos processamentos cognitivos complexos necessários para desempenhar tarefas dirigidas a um propósito. Ou seja, estão relacionadas à capacidade de um indivíduo se dedicar a comportamentos orientados para um objetivo”, analisa Thiago Gomes de Lima, psicólogo especialista em neuropsicologia e psicologia do esporte.
Desse modo, as funções executivas, “tais como memória operacional, auditiva, visual, atenção seletiva, planejamento e flexibilidade, são decisivas para o sucesso no esporte”, completa Thiago.
Possuir uma memória avançada garante que o cérebro selecione mais rápido a melhor resposta em uma fração de segundos, permitindo que o atleta se antecipe na jogada – o processo é praticamente automático para eles. Os cientistas explicam que, além do modo como armazenaram as memórias, os esportistas de ponta também acessam essas informações de um jeito diferente. Ao ver ou experienciar a jogada, os craques a depositam diretamente na memória a longo prazo e os indivíduos comuns na memória temporária, facilmente esquecida.
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Texto e entrevista: Érika Alfaro – Edição: Giovane Rocha/Colaborador
Consultoria: Thiago Gomes de Lima, psicólogo especialista em neuropsicologia e psicologia do esporte